Os trabalhadores nacionais e
imigrantes
Havia
na cabeça das elites do Brasil, uma imagem de que o trabalhador nacional era
vagabundo e preguiçoso. Essas idéias fazem-nos não ser aproveitado para os
serviços principais; assim, eram
utilizados em atividades “como transportes, abertura e conservação de estradas,
obras públicas. Faziam também o desmatamento e cumpriam a tarefa de
desbravamento do vasto território. Ademais, foram utilizados para implantar as
ferrovias (...) também arregimentados [usados] nas guerras” e revoltas
internas, mas sobretudo, eram os capatazes, aqueles que exerciam a violência na
época da escravidão. Nas áreas de novo plantio do café desempenharam as tarefas
mais árduas – derrubadas de matas e preparo da terra – que o imigrante
rejeitava.
Os
fazendeiros e empresários não respeitavam as manifestações culturais e sociais do “caboclo”. Desejando
destruí-las para impor as suas formas de cultura e dominar os indivíduos mais
facilmente. Exemplo: a falta de atendimento médico e higiênico, bem como a
forma de vida simples que o caboclo tem, fazem-no acreditar em milagres e
heróis salvadores, levando-o a procura de curas para seus males através das crenças
vindas de terapias naturais, muitas delas, heranças indígenas.
Mas
nos outros Estados brasileiros a situação não era assim. Em Pernambuco, em
1900, os imigrantes chegavam a só 1% dos habitantes. Já no Rio de Janeiro,
onde, em 1890, quase 30% da mão-de-obra presente na indústria manufatureira era
composta de negros e mestiços e, 57% das pessoas ocupadas neste setor não eram
estrangeiras. Isso se manterá, pois em 1906, 50,6% dos trabalhadores de
indústrias, transportes e comércio eram brasileiros. Em São Paulo , a partir de
1890, também na indústria o trabalhador nacional foi empregado de maneira
acessória e secundária, mas servia para gerar uma reserva de mão-de-obra
barata. O trabalhador nacional era vítima dos fortes preconceitos de cor.
As
idéias de “vadiagem” dos nacionais começaram a se modificar quando a vinda de
imigrantes começou a diminuir, a partir de 1914, com a eclosão da Primeira
Guerra. Até aquela época, os cafeicultores conseguiram diminuir a saída de
mão-de-obra dos cafezais para as cidades por meio de constantes vindas de
imigrantes.
Chega
a ser engraçado o fato de que: para a grande maioria das tarefas industriais a
mão-de-obra não precisava de qualquer qualificação profissional. A utilização
do imigrante na indústria paulista não decorreu de sua melhor qualificação. O
que ocorre é que havia uma descrença sobre o indivíduo nacional.
Ao
chegar no Brasil o imigrante ia para
a “Hospedaria dos Imigrantes” uma espécie de prisão, já que os fazendeiros
“controlavam o embarque direto dos colonos do porto de Santos para a Hospedaria
do Imigrantes na capital e fizeram da Hospedaria dos Imigrantes uma agência de
colocação, uma espécie de prisão, da qual o colono só saía mediante um contrato
de trabalho para os cafezais”.
O
imigrante chegava sem nada e lhe entregavam uma pequena casa de tijolos, os
objetos de primeira necessidade e lhe abriam um crédito. O colonos,
endividados, eram obrigados a comprar no armazém da fazenda com preços dos
mantimentos 3 ou 4 vezes maior do que o normal. Eram “vendidos” aos
trabalhadores: vestuário, produtos de boticário e serviços médicos; o que
parecia generosidade, mas eram descontados do salário e faziam o trabalhador
acumular dívidas. O patrão dá um monte de benefícios, mas os “presentes” são
formas de convencer o trabalhador de que ele está sempre bem cuidado, e assim,
trabalha mais alegre e rende mais - isso, esconde
a exploração, pois, o rendimento vai para o patrão.
O
imigrante, depois de fugir da falta de terras na Europa, queria tornar-se
proprietário. Mas, como você já estudou, a partir de 1850, com a Lei de terras,
os imigrantes não tem condições de comprar um lote, pois chegavam aqui em
grande estado de pobreza.
Por
todos esses fatores, a entrada de imigrantes diminui no Estado de São Paulo
entre 1915-19; ao mesmo tempo, a entrada de trabalhadores nacionais aumenta
muito a partir de 1914, pois, sem os imigrantes, os grandes cafeicultores vão
buscar o trabalhador nacional no Nordeste, nas regiões mais atacadas pela seca.
A partir daí, as idéias da elite em relação ao nacional, mudaram: sua
desambição passa a ser encarada como “não busca lucro fácil”. Sua comparação
com o estrangeiro é freqüente, pois para os grupos dominantes sempre havia o
perigo de infiltração do “vírus
anarquista”, de origem estrangeira. Os trabalhadores nacionais são agora
vistos “como homem operoso e patriota, bem superiores ao traiçoeiro e desleal
estrangeiro”.
Mesmo
assim, o nacional continuou deixado em posição de inferioridade; reproduziu-se
o quadro de exclusão social para o negro e o mulato, mas suas presenças serviam
para manter os salários baixos e diminuir a resistência operária nos momentos
de greves. Por fim, “Os pretos gostam do
Getúlio porque pensam que foi ele que acabou com o preconceito. Mas não foi. É
que faltou mão-de-obra. Se não houvesse a falta de mão-de-obra, os pretos nunca
conseguiriam entrar nas fábricas” (Depoimento prestado a Florestan
Fernandes, A integração do Negro na
Sociedade de Classes).