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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Os trabalhadores nacionais e imigrantes

Os trabalhadores nacionais e imigrantes

Havia na cabeça das elites do Brasil, uma imagem de que o trabalhador nacional era vagabundo e preguiçoso. Essas idéias fazem-nos não ser aproveitado para os serviços principais; assim,  eram utilizados em atividades “como transportes, abertura e conservação de estradas, obras públicas. Faziam também o desmatamento e cumpriam a tarefa de desbravamento do vasto território. Ademais, foram utilizados para implantar as ferrovias (...) também arregimentados [usados] nas guerras” e revoltas internas, mas sobretudo, eram os capatazes, aqueles que exerciam a violência na época da escravidão. Nas áreas de novo plantio do café desempenharam as tarefas mais árduas – derrubadas de matas e preparo da terra – que o imigrante rejeitava.
Os fazendeiros e empresários não respeitavam as manifestações culturais e sociais do “caboclo”. Desejando destruí-las para impor as suas formas de cultura e dominar os indivíduos mais facilmente. Exemplo: a falta de atendimento médico e higiênico, bem como a forma de vida simples que o caboclo tem, fazem-no acreditar em milagres e heróis salvadores, levando-o a procura de curas para seus males através das crenças vindas de terapias naturais, muitas delas, heranças indígenas.
Mas nos outros Estados brasileiros a situação não era assim. Em Pernambuco, em 1900, os imigrantes chegavam a só 1% dos habitantes. Já no Rio de Janeiro, onde, em 1890, quase 30% da mão-de-obra presente na indústria manufatureira era composta de negros e mestiços e, 57% das pessoas ocupadas neste setor não eram estrangeiras. Isso se manterá, pois em 1906, 50,6% dos trabalhadores de indústrias, transportes e comércio eram brasileiros. Em São Paulo, a partir de 1890, também na indústria o trabalhador nacional foi empregado de maneira acessória e secundária, mas servia para gerar uma reserva de mão-de-obra barata. O trabalhador nacional era vítima dos fortes preconceitos de cor.
As idéias de “vadiagem” dos nacionais começaram a se modificar quando a vinda de imigrantes começou a diminuir, a partir de 1914, com a eclosão da Primeira Guerra. Até aquela época, os cafeicultores conseguiram diminuir a saída de mão-de-obra dos cafezais para as cidades por meio de constantes vindas de imigrantes.
Chega a ser engraçado o fato de que: para a grande maioria das tarefas industriais a mão-de-obra não precisava de qualquer qualificação profissional. A utilização do imigrante na indústria paulista não decorreu de sua melhor qualificação. O que ocorre é que havia uma descrença sobre o indivíduo nacional.
Ao chegar no Brasil o imigrante ia para a “Hospedaria dos Imigrantes” uma espécie de prisão, já que os fazendeiros “controlavam o embarque direto dos colonos do porto de Santos para a Hospedaria do Imigrantes na capital e fizeram da Hospedaria dos Imigrantes uma agência de colocação, uma espécie de prisão, da qual o colono só saía mediante um contrato de trabalho para os cafezais”.
O imigrante chegava sem nada e lhe entregavam uma pequena casa de tijolos, os objetos de primeira necessidade e lhe abriam um crédito. O colonos, endividados, eram obrigados a comprar no armazém da fazenda com preços dos mantimentos 3 ou 4 vezes maior do que o normal. Eram “vendidos” aos trabalhadores: vestuário, produtos de boticário e serviços médicos; o que parecia generosidade, mas eram descontados do salário e faziam o trabalhador acumular dívidas. O patrão dá um monte de benefícios, mas os “presentes” são formas de convencer o trabalhador de que ele está sempre bem cuidado, e assim, trabalha mais alegre e rende mais - isso, esconde a exploração, pois, o rendimento vai para o patrão.
O imigrante, depois de fugir da falta de terras na Europa, queria tornar-se proprietário. Mas, como você já estudou, a partir de 1850, com a Lei de terras, os imigrantes não tem condições de comprar um lote, pois chegavam aqui em grande estado de pobreza.
Por todos esses fatores, a entrada de imigrantes diminui no Estado de São Paulo entre 1915-19; ao mesmo tempo, a entrada de trabalhadores nacionais aumenta muito a partir de 1914, pois, sem os imigrantes, os grandes cafeicultores vão buscar o trabalhador nacional no Nordeste, nas regiões mais atacadas pela seca. A partir daí, as idéias da elite em relação ao nacional, mudaram: sua desambição passa a ser encarada como “não busca lucro fácil”. Sua comparação com o estrangeiro é freqüente, pois para os grupos dominantes sempre havia o perigo de infiltração do “vírus anarquista”, de origem estrangeira. Os trabalhadores nacionais são agora vistos “como homem operoso e patriota, bem superiores ao traiçoeiro e desleal estrangeiro”.
Mesmo assim, o nacional continuou deixado em posição de inferioridade; reproduziu-se o quadro de exclusão social para o negro e o mulato, mas suas presenças serviam para manter os salários baixos e diminuir a resistência operária nos momentos de greves. Por fim, “Os pretos gostam do Getúlio porque pensam que foi ele que acabou com o preconceito. Mas não foi. É que faltou mão-de-obra. Se não houvesse a falta de mão-de-obra, os pretos nunca conseguiriam entrar nas fábricas” (Depoimento prestado a Florestan Fernandes, A integração do Negro na Sociedade de Classes).