O fim do Estado novo e as eleições de 1945
Com
a derrota do nazi-fascismo na Europa a situação de Vargas ficou insustentável
no Brasil. Por quê? A vitória dos Aliados na guerra deixava os sistemas
democráticos ocidentais em relevância. O Brasil não poderia fugir ao ritmo dos
acontecimentos mundiais. Era preciso adaptar-se às eleições democráticas e essa
exigência vai canalizar um desejo de amplos setores da sociedade para que o
estado novo acabe.
Os
primeiros a pressionar Vargas para tal fim formam os generais militares que
estavam na Segunda Guerra. Já de volta ao Brasil, em agosto de 1945 proclamam o
“Manifesto dos Militares” que pede a saída de Vargas do poder. Este se sentiu
traído, pois estes militares eram generais
por sua causa e ainda eram de seu apoio (G. Monteiro, E. Dutra etc.).
As
oligarquias liberais que odiavam Vargas por causa do atendimento as
reivindicações dos trabalhadores urbanos começaram a pedir a cabeça do ditador.
Essas elites liberais começavam a se unir para formar um partido político: a
UDN (União Democrática Nacional),
defendiam uma participação dos letrados na política e o fim dos direitos
trabalhistas indos do Estado Novo. Bem democráticos, você não acha?
O
PCB – que foi quase destroçado durante o Estado Novo – começou a se rearticular
no segundo semestre de 1943 na “Conferência da Mantiquera” e através do grupo
comunista do RJ e do NE que criou o CNOP (Comitê Nacional de Organização
Provisória) em desacordo com os comunistas de SP. A posição do PCB aqui era de
ofender Vargas, chamando-o de ditador e exigir sua queda. Mas as coisas vão
mudar...
Vargas
– astuto politicamente - percebeu que não havia mais como ficar no poder. Por
isso criou dois partidos políticos para os tempos democráticos que estavam por
vir: o PSD (Partido Social Democrático) – que abrangeria as elites beneficiadas
pela máquina do Estado Novo; e o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro, nada a
ver com o atual) - para representar os direitos dos trabalhadores conquistados
no Estado Novo e enfrentar o PCB.
Os
trabalhadores urbanos de RJ e SP não esqueceram de Vargas. Apoiados por
políticos e sindicalistas ligados à estrutura de sindicalismo oficial do Estado
Novo, criam em meados de 1945 o “Movimento Queremista” ou “Queremos Getúlio”.
Pediam a continuação do ditador no poder!! Lutavam por uma nova constituição, mas que fosse
presidida por Vargas!! E ainda exigiam que Vargas fosse candidato nas próximas
eleições!!
Como
diz o historiador carioca Jorge Ferreira: Estranho país esse, heim? O povo pede
para o ditador ficar, pois tem medo que os liberais “democráticos” retirem-lhes
os direitos e os coloquem numa situação anterior a 1930... i. e., sem direitos
e sendo tratados como “caso de polícia”...
Foi
aí que o PCB acordou... os trabalhadores “queriam Getúlio”!! Em 1945, ainda com
Prestes preso, mas já “dando as cartas” o partido muda de lado e começa a
apoiar Vargas. Êta país cumpricado, sô!?
Sob
enorme pressão dos militares e dos liberais Vargas é retirado do poder e 29 de
outubro de 1945. Marcadas as eleições para novembro de 1945 surgiram três candidatos:
O
brigadeiro Eduardo Gomes (UDN) era opositor de Vargas desde o Estado Novo e
baseou sua campanha no lema “Lembrai-vos de 37” em cartazes que demonstravam o
rosto de pessoa com venda nos olhos e na boca.
O
general Eurico Gaspar Dutra (PSD-PTB) foi apoio de Vargas até 1945 e era o
candidato das oligarquias do Estado Novo. Seu coordenador de campanha Hugo
Borghi fez de tudo para que Vargas – isolado no RS – lhe desse apoio, mas o
ex-ditador negava dizendo que Dutra o teria traído.
O
engenheiro E. Fiúza (PCB) era um desconhecido, mas o partido percebendo que
Vargas não apoiava Dutra tentou chamar a atenção do ex-ditador com a
candidatura de seu amigo (Fiúza). O PCB estava a partir de outubro de 1945 na legalidade,
devido aos acordos de paz do pós-guerra entre EUA e URSS. Essa situação não vai
demorar para modificar-se, viu?!
Em
que a população votava? Em ninguém!! Ou melhor: pediam para que Vargas fosse
candidato, senão não iriam votar! Estranho povo, né?! Eleições “democráticas”
com candidatos “novos” e eles querem Vargas. “Santa teimosia”... “O povo não
sabe votar”... “Vargas – aquele fascista - controlou até as mentes dos pobres!”
diziam os liberais da UDN. Mas qual a realidade?
Dutra
era um substituto que não chegava ao pé de Vargas. Sem carisma, o militar não
conseguia nem sorrir quando se encontrava com o povo nas praças. Eduardo Gomes
era mais frio ainda... coisa de militar. Chegou até a dizer que não “preciso
dos votos dos marmiteiros” (a palavra tinha outro significado na época). Hugo
Borghi vai propagar que Gomes havia dito que os
trabalhadores não precisavam votar nele... mas a tática não impulsionou a campanha de Dutra... Fiúza era um
desconhecido. A estratégia do PCB não deu certo. No entanto, para deputados
federal e estadual, para o senado e outros o PCB recebeu votações enormes.
Prestes, libertado da cadeia elegeu-se senador com a maior votação da época.
Jorge Amado, Marighella, Gregório Bezerra, Maurício Grabois e outros elegeram-se deputados federais.
Começava a surgir o “Partidão”...
Na
ultima semana de campanha, Borghi viaja até o RS e convence Vargas a dar apoio
a Dutra. Estava Ganha a eleição!!!