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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

A imigração estrangeira no século 19

A imigração estrangeira no século 19

Este texto tem o objetivo de mostrar que no Brasil do século XIX houve um abrandamento da escravidão, além de uma intersecção e coexistência de formas de trabalho não-capitalistas, como a Parceria e o Colonato até que as condições históricas existissem no país para que o trabalho assalariado fosse predominante. A transição do escravismo para o trabalho assalariado e livre ocorreu com avanços e recuos.
Já desde a década de 1.830, os fazendeiros paulistas, com a intenção de “branquear e moralizar a raça brasileira”, começaram a pensar em um “substituto” para o escravo (muito embora já esteja provado que havia no país uma quantidade suficiente de trabalhadores nacionais). Os imigrantes europeus, que estavam sendo expulsos de seus países (pelo processo de cercamento das terras), vinham para o Brasil iludidos por uma propaganda enganosa e cheios de esperança por riquezas, sem saber que aqui a riqueza só ficava nas mãos dos grandes fazendeiros. Entre esses imigrantes, se destacam os italianos que vieram em grande número para S. Paulo, na passagem do século. Desde o meio do século XIX, o trabalho escravo não era tão pesado como nos séculos anteriores. Isso ocorreu porque as novas condições históricas impuseram aos fazendeiros a necessidade de criar novas relações paternalistas no tratamento dos trabalhadores escravos.
Além disso, havia as formas não-capitalistas de trabalho: em São Paulo, a primeira foi a Parceria - onde o trabalhador imigrante dividia com seu chefe os alimentos plantados e fazia trocas com aquilo que não consumia. Na parceria ocorreram inúmeras revoltas devido a discordâncias entre os fazendeiros e trabalhadores, estes acusavam os primeiros de roubar na hora de fazer a divisão e as trocas por outros produtos; em seguida, surgiu o Colonato – nele o trabalhador começa receber salário pelos seus serviços, mas ainda recebe uma grande parte de seus ganhos em mercadorias e benefícios. Perceba que aos poucos (com avanços e recuos) a forma de trabalho no Brasil está se transformando livre e assalariada.
Quanto aos imigrantes, as viagens da Europa até aqui, além da alimentação, moradia e remédios eram pagas primeiramente pelos fazendeiros (e se tornavam uma pesada dívida para os colonos, que ficou conhecida como “escravidão por dívidas”). A partir de 1871 o governo do Estado de S. Paulo começou subsidiar (pagar, com dinheiro do povo!) pela vinda de trabalhadores para a lavoura, começando o que ficou chamado de “Imigração de massa”. Na década de 1890, o subsídio continua, agora com o governo federal pagando a conta. Porém eram sempre os trabalhadores que ficavam com a conta para pagar. Perceba: as dívidas são uma forma de forçar o trabalhador a ficar no serviço, por pior que este seja.
Você pode estar se perguntando: Por que ao invés de trazer os imigrantes, não se usou o ex-escravo e os trabalhadores livres na lavoura? 1) as elites brasileiras queriam “branquear” e “moralizar” a população brasileira, trazendo pessoas da cor branca para misturar-se com os negros afro-brasileiros. Essa tese está baseada no racismo científico do século XIX (Darwinismo social – para o qual o homem branco era a evolução máxima da espécie). 2) o ex-escravo que saia do cativeiro, não tinha sido ensinado a trabalhar com técnicas mais refinadas de conhecimento, pois nas fazendas não faziam nada além de trabalhos braçais. Alguns dos novos serviços precisavam de trabalhadores que soubessem um montão de tarefas; o escravo nunca tivera chanca de aprender. 3) no imaginário dos fazendeiros brasileiros, o “caboclo” nacional era vagabundo, preguiçoso e desobediente. Mas na realidade, eles não respeitavam o modo de vida deste trabalhador. As elites acreditavam que o “caboclo” deveria ser obrigado a trabalhar para eles por um salário.
Lembre-se: a idéia principal que os fazendeiros tinham era a de ter uma maior quantidade de trabalhadores para abaixar os salários destes. Por isso, na cidade de S. Paulo havia uma condição de extrema pobreza para a grande maioria da população, pois os imigrantes, insatisfeitos com a exploração e violência vividas no campo, fugiam para a cidade de S. Paulo. Os ex-escravos e o trabalhador nacional, sem serviço no campo também vinham para cá. Isso aqui virou um imenso cortiço!