A imigração estrangeira no século 19
Este
texto tem o objetivo de mostrar que no Brasil do século XIX houve um
abrandamento da escravidão, além de uma intersecção e coexistência de formas de
trabalho não-capitalistas, como a Parceria
e o Colonato até que as condições
históricas existissem no país para que o trabalho assalariado fosse
predominante. A transição do escravismo para o trabalho assalariado e livre
ocorreu com avanços e recuos.
Já
desde a década de 1.830, os fazendeiros paulistas, com a intenção de “branquear e moralizar a raça brasileira”,
começaram a pensar em um “substituto” para o escravo (muito embora já esteja
provado que havia no país uma quantidade suficiente de trabalhadores
nacionais). Os imigrantes europeus, que estavam sendo expulsos de seus países
(pelo processo de cercamento das
terras), vinham para o Brasil iludidos por uma propaganda enganosa e cheios de
esperança por riquezas, sem saber que aqui a riqueza só ficava nas mãos dos
grandes fazendeiros. Entre esses imigrantes, se destacam os italianos que vieram em grande número
para S. Paulo, na passagem do século. Desde o meio do século XIX, o trabalho
escravo não era tão pesado como nos séculos anteriores. Isso ocorreu porque as
novas condições históricas impuseram aos fazendeiros a necessidade de criar
novas relações paternalistas no tratamento dos trabalhadores escravos.
Além
disso, havia as formas não-capitalistas de trabalho: em São Paulo , a primeira
foi a Parceria - onde o trabalhador
imigrante dividia com seu chefe os alimentos plantados e fazia trocas com
aquilo que não consumia. Na parceria ocorreram inúmeras revoltas devido a
discordâncias entre os fazendeiros e trabalhadores, estes acusavam os primeiros
de roubar na hora de fazer a divisão e as trocas por outros produtos; em
seguida, surgiu o Colonato – nele o
trabalhador começa receber salário pelos seus serviços, mas ainda recebe uma
grande parte de seus ganhos em mercadorias e benefícios. Perceba que aos poucos
(com avanços e recuos) a forma de trabalho no Brasil está se transformando
livre e assalariada.
Quanto
aos imigrantes, as viagens da Europa até aqui, além da alimentação, moradia e
remédios eram pagas primeiramente pelos fazendeiros (e se tornavam uma pesada
dívida para os colonos, que ficou
conhecida como “escravidão por dívidas”).
A partir de 1871 o governo do Estado de S. Paulo começou subsidiar (pagar, com
dinheiro do povo!) pela vinda de trabalhadores para a lavoura, começando o que
ficou chamado de “Imigração de massa”. Na década de 1890, o subsídio continua,
agora com o governo federal pagando a conta. Porém eram sempre os trabalhadores
que ficavam com a conta para pagar. Perceba: as dívidas são uma forma de forçar
o trabalhador a ficar no serviço, por pior que este seja.
Você
pode estar se perguntando: Por que ao invés de trazer os imigrantes, não se
usou o ex-escravo e os trabalhadores livres na lavoura? 1) as elites
brasileiras queriam “branquear” e “moralizar” a população brasileira, trazendo
pessoas da cor branca para misturar-se com os negros afro-brasileiros. Essa
tese está baseada no racismo científico do
século XIX (Darwinismo social – para
o qual o homem branco era a evolução máxima da espécie). 2) o ex-escravo que
saia do cativeiro, não tinha sido ensinado a trabalhar com técnicas mais
refinadas de conhecimento, pois nas fazendas não faziam nada além de trabalhos
braçais. Alguns dos novos serviços precisavam de trabalhadores que soubessem um
montão de tarefas; o escravo nunca tivera chanca de aprender. 3) no imaginário
dos fazendeiros brasileiros, o “caboclo” nacional era vagabundo, preguiçoso e
desobediente. Mas na realidade, eles não respeitavam o modo de vida deste
trabalhador. As elites acreditavam que o “caboclo” deveria ser obrigado a
trabalhar para eles por um salário.
Lembre-se:
a idéia principal que os fazendeiros
tinham era a de ter uma maior quantidade de trabalhadores para abaixar os
salários destes. Por isso, na cidade de S. Paulo havia uma condição de
extrema pobreza para a grande maioria da população, pois os imigrantes,
insatisfeitos com a exploração e violência vividas no campo, fugiam para a
cidade de S. Paulo. Os ex-escravos e o trabalhador nacional, sem serviço no
campo também vinham para cá. Isso aqui virou um imenso cortiço!