O solo vira mercadoria - A lei de
terras de 1850
Durante
o século 19, nos países Latino-americanos houve uma série de reformas liberais
nas leis que proporcionaram um avanço do capitalismo
na região: a liberalização do comércio, a abolição da escravidão e servidão
jurídica (na América espanhola) e a transformação da terra em mercadoria.
No
Brasil, a partir de 1.822 as condições para ter acesso a terras sofreram
mudanças. As doações de sesmarias – que existiam desde o início do século 16 – foram
eliminadas. Mas, não houve nenhuma outra lei que a substituísse. Então, entre
1822 e 1850, os fazendeiros aproveitaram para expandir suas terras para além de
suas cercas, tomando muitas áreas antes vazias. Nas proximidades dessas terras havia
pequenos posseiros e comunidades
indígenas, mas os grandes donos de terras tomavam essas terras, utilizando-se
de meios violentos como ameaças e assassinatos de pessoas, queima das
plantações, entre outros.
Só
em 1850, houve uma nova lei para organizar a distribuição de terras no país. O objetivo dessa lei era impedir que os
escravos que estavam se tornando libertos e os imigrantes que começam a vir
para o Brasil pudessem ter terras, sendo assim, forçados a trabalhar para os
grandes fazendeiros do café!!
A
partir da Lei de 1850 o solo (que antes era doado pelo rei, como as sesmarias)
passou a ser tratado como mercadoria, produto que pode ser vendido e comprado.
Assim, só era permitido a uma pessoa usar um lote de terras, se esta tivesse o
comprovante (certificado) de propriedade, ou seja, de compra.
A
lei de 1850 previa que: (a) os lotes só seriam vendidos em grandes proporções
de terra, e (b) os lotes teriam um preço alto fixado pelas autoridades
provinciais (estaduais) de cada região. Dessa forma, sem dinheiro, os
ex-escravo e os imigrantes não conseguiam nenhum pedaço de terra para plantar e
sobreviver, sendo assim forçados a trabalhar para os grandes fazendeiros. Em
São Paulo, desde de 1844 plantava-se o café em escala comercial e, como havia
uma possibilidade de grandes lucros, a necessidade de mão-de-obra era cada vez
maior.
A retirada destas terras das mãos de grupos ou
instituições que as tinham há muito tempo também ocorreu. A única exceção foi a
Igreja Católica que não perdeu suas terras no Brasil. Mas, até os grupos
indígenas, que eram os verdadeiros donos das terras, pois estavam com seu uso (posse)
há mais tempo que todo mundo, perderam suas terras. Havia na lei de 1850, uma
cláusula determinando o governo como responsável para conseguir terras para as
comunidades indígenas. Mas nem o governo imperial, nem os da República
resolveram esse problema que eles mesmos criaram para os índios. As comunidades
que se utilizavam das terras contínuas às cidades também dançaram...
Como
definiu José de Souza Martins, a Lei de terras demonstra que “num
regime de terras livres, o trabalho tinha que ser cativo; num regime de
trabalho livre, a terra tinha que ser cativa”. (O cativeiro da terra, p. 32).
Em
1854, houve a regulamentação da lei de 1850. Através daquela, definiu-se, por
exemplo, que as posses de terras anteriores á lei de terras seriam regularizadas
pelos antigos posseiros. No entanto, os grandes fazendeiros se aproveitaram da
situação para, por exemplo, aumentar (de novo!) suas terras. Na época, bastava ordenar
os escravos para puxar os mourões pra frente. Também os funcionários do Estado
que fiscalizariam o tamanho dos lotes de terras eram sem remuneração, isto é,
alvo fácil para corrupção e suborno…
Essas
mudanças não foram aproveitadas pelos pequenos posseiros e/ou pequenos agricultores,
pois além de não saberem o que estava ocorrendo (lembre-se: os grandes
fazendeiros eram deputados e senadores da época); além disso, os pequenos
posseiros não compreendiam que o regime
legal de acesso às terras havia mudado; essas mudanças institucionais não
eram algo que uma população em maioria analfabeta compreenderia facilmente
(claro que os grandes fazendeiros, analfabetos como os outros, não entendiam
também; mas aí, outros fazendeiros próximos os avisavam das mudanças).
Pode
parecer estranho, mas esta e outras mudanças que ocorreram durante o 2° Reinado
foram todas realizadas pelo Partido Conservador (deveria ser o liberal, né?!).
Eram os conservadores que procuravam mudar as instituições do país a fim de
adequá-las ao capitalismo. Os liberais queriam a manutenção da escravidão e do
país do jeito que ele estava (eram, portanto, conservadores!). É por isso que
as mudanças feitas no 2° Reinado são, muitas vezes, mais avançadas do que
aquelas feitas pelos republicanos liberais depois de 1889 (Proclamação da República);
por exemplo: em 1881, o império fez uma reforma no código eleitoral que
expandiu o número de votantes no país; em 1890, a Constituição
republicana (de inspiração liberal) reduziu o número de votantes (!) ao
decretar que somente os alfabetizados teriam direito ao voto...
Além
da Lei de terras, houve em 1850 mudanças no código criminal, no código
comercial e a Lei Eusébio de Queiroz – que proibia o tráfico de escravos (era o
inicio da abolição da escravidão no país).
Leitura complementar :
A “grilagem”
- Desde 1850, existe uma prática muito comum para burlar a lei e tomar terras vazias
(públicas) e dos pequenos agricultores, fazendo a família deste abandonar as
terras. Isso ocorre por meio da “Grilagem”:
o grileiro cria um certificado falso de propriedade de terras, depois coloca o
papel em uma gaveta fechado com grilos e folhas verdes junto. Comendo as
folhas, o grilo defeca no papel este amarela, parecendo velho. Assim, o
grileiro usa este “certificado de propriedade” para regularizar a terra junto
ao Estado e aí, atacando os pequenos agricultores os expulsam das terras. Em seguida,
o grileiro vende as terras com grandes lucros aos fazendeiros. Essa é uma forma
de enganar os pequenos agricultores e trabalhadores e que usa uma terra devoluta
(vazia, pública) para ganhar dinheiro. Isso ocorre desde 1850 e até no Brasil
atual. Acredite, se puder...
Leitura complementar :
A “grilagem”
- Desde 1850, existe uma prática muito comum para burlar a lei e tomar terras vazias
(públicas) e dos pequenos agricultores, fazendo a família deste abandonar as
terras. Isso ocorre por meio da “Grilagem”:
o grileiro cria um certificado falso de propriedade de terras, depois coloca o
papel em uma gaveta fechado com grilos e folhas verdes junto. Comendo as
folhas, o grilo defeca no papel este amarela, parecendo velho. Assim, o
grileiro usa este “certificado de propriedade” para regularizar a terra junto
ao Estado e aí, atacando os pequenos agricultores os expulsam das terras. Em seguida,
o grileiro vende as terras com grandes lucros aos fazendeiros. Essa é uma forma
de enganar os pequenos agricultores e trabalhadores e que usa uma terra devoluta
(vazia, pública) para ganhar dinheiro. Isso ocorre desde 1850 e até no Brasil
atual. Acredite, se puder...