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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O governo Dutra

O governo Dutra  

            O governo de Eurico Gaspar Dutra é marcado pelo realinhamento do Brasil a guerra-fria anti-comunista norte-americana. Lembre-se que ao final da Segunda Guerra (1938-1945) os governos de Moscou e Washington sentaram para conversar sobre os despojos de guerra e o que fazer com as potências derrotadas, particularmente a Alemanha. Em diversas reuniões em Yalta até Potsdam, Roosevelt, depois Trumam pelos EUA e Stálin pela URSS negociaram a paz no mundo. Assim, entre 1945 e 1947 o mundo viveu um pequeno período de “paz negociada”.
            No Brasil os reflexos disso ficam claros quando o PCB fora legalizado e pôde em 1946 disputar as eleições gerais, fazer campanha nas ruas – enchendo estádios de futebol para o público ouvir o “camarada” Prestes falar – e eleger muitos pecebistas para diversos cargos.
            A legalidade do PCB no entanto durará um minúsculo ano. Dois motivos deixam o partido em situação “difícil” e levam a cassação de seu registro em meados de 1947. O primeiro, mais claro é o rompimento de EUA e URSS da política de “conciliação”, a partir desse ano. Agora a Guerra-fria era para valer!
O segundo motivo foi que houve uma série de greves entre 1946 e 1947 de categorias de trabalhadores que, aproveitando-se das liberdades restituídas nesses “tempos democráticos”, exigiam melhorias salariais. Uma das greves que mais se destacou foi a dos bancários de SP em janeiro/fevereiro de 1947. A posição do PCB nessas greves era ambígua e indecisa. Se por um lado era um partido que tendia a apoiar todas as manifestações dos trabalhadores, por outro – de olho nos acontecimentos mundiais – procurava não promover ações que pudessem desestabilizar o governo Dutra, pois este, aliado dos EUA, estava em “lua-de-mel” com a URSS. O Comitê Central do PCB (CC) pedia aos grevistas que não se excedessem, que lembrassem que eram tempos de paz etc. Mas os trabalhadores queriam melhorar suas condições de vida e trabalho. E tome greve!! O PCB ficava perdido nisso tudo...
No meio de 1947, o Superior Tribunal Eleitoral iniciou um processo de cassação do registro do PCB. Era o impacto da guerra-fria no Brasil. O CC do PCB achou que não ia dar em nada, pois os “interesses do imperialismo não iriam acabar com a paz entre URSS e EUA”. Não movendo um palha para mobilizar aqueles milhares que votaram no partido em 1946. Resultado: no segundo semestre de 1947 o PCB estava de novo na ilegalidade. Em 1948, os deputados, senadores, vereadores e o senador Luis Carlos Prestes foram todos cassados, perdendo seus mandatos.
Dutra foi mais generoso com o PCB até o final de seu governo: foram mortos dezenas de dirigentes do partido. Era a guerra-fria...
Por outro lado, os generais do exército recém egressos da Segunda Guerra, ficaram estupefatos com a organização e ideologia militares norte-americanas. Góes Monteiro era um desses entusiasmados. Decidiu então sistematizar seus planos da época do Estado Novo: era necessário criar uma Doutrina de Segurança e Desenvolvimento Nacionais. Para isso, ele e outro militares, como Juarez Távora, fundaram em 1949 e ESG (Escola Superior de Guerra), baseada na National War College do Tio Sam. A intenção da ESG era sistematizar/organizar uma doutrina de pensamento que levasse Forças Armadas e Estado brasileiro a criar uma sociedade industrial – desenvolvida em bases da nova fase que o mundo estava vivendo: luta contra o inimigo maior: o comunismo. O país deveria se transformar em um grande quartel.
A ESG tinha, no entanto duas diferenças em relação a NWC dos EUA: dava maior importância a luta contra o inimigo interno comunista e não era só freqüentada por militares. Centenas de civis faziam cursos na ESG. Todos eles escolhidos a dedo pelo comando da escola: a maioria eram membros da alta burguesia e tecnocratas (uma mistura de burocrata com técnicos em áreas de alta tecnologia). Por que será que havia civis na ESG? Pense...
O governo Dutra (1946 – 1950) criou o plano S.AL.T.E. (saúde, alimentação, transporte e energia). Os resultados foram decepcionantes, a não ser para o próprio presidente que engordou uns bons quilinhos durante seu mandato...
            Em 1950 realizou-se no Brasil a Copa do Mundo de Futebol. O Maracanã foi construído para esse evento. A empolgação era geral. A seleção canarinho desfilou até a final... um dia antes da finalíssima contra os já campeões do mundo Uruguai, os jornais, as pessoas e todo mundo só falava uma coisa: “Brasil campeão!”. É... perdemos: 2x1 para “nostros ermanos” com um gol difícil de engolir de Gigghia. O país chorou muito aquela decepção...
            Ao final do governo Dutra os partidos se preparavam para as eleições em 1950. Para a UDN abria-se a possibilidade de ganhar uma eleição, mas havia um fantasma que poderia atrapalhá-los...