O governo Dutra
O
governo de Eurico Gaspar Dutra é marcado pelo realinhamento do Brasil a
guerra-fria anti-comunista norte-americana. Lembre-se que ao final da Segunda
Guerra (1938-1945) os governos de Moscou e Washington sentaram para conversar
sobre os despojos de guerra e o que fazer com as potências derrotadas,
particularmente a Alemanha. Em diversas reuniões em Yalta até Potsdam,
Roosevelt, depois Trumam pelos EUA e Stálin pela URSS negociaram a paz no
mundo. Assim, entre 1945 e 1947 o mundo viveu um pequeno período de “paz
negociada”.
No
Brasil os reflexos disso ficam claros quando o PCB fora legalizado e pôde em
1946 disputar as eleições gerais, fazer campanha nas ruas – enchendo estádios
de futebol para o público ouvir o “camarada” Prestes falar – e eleger muitos
pecebistas para diversos cargos.
A
legalidade do PCB no entanto durará um minúsculo ano. Dois motivos deixam o
partido em situação “difícil” e levam a cassação de seu registro em meados de
1947. O primeiro, mais claro é o rompimento de EUA e URSS da política de
“conciliação”, a partir desse ano. Agora a Guerra-fria era para valer!
O segundo motivo foi que houve
uma série de greves entre 1946 e 1947 de categorias de trabalhadores que,
aproveitando-se das liberdades restituídas nesses “tempos democráticos”,
exigiam melhorias salariais. Uma das greves que mais se destacou foi a dos
bancários de SP em janeiro/fevereiro de 1947. A posição do PCB nessas greves
era ambígua e indecisa. Se por um lado era um partido que tendia a apoiar todas
as manifestações dos trabalhadores, por outro – de olho nos acontecimentos
mundiais – procurava não promover ações que pudessem desestabilizar o governo
Dutra, pois este, aliado dos EUA, estava em “lua-de-mel” com a URSS. O Comitê
Central do PCB (CC) pedia aos grevistas que não se excedessem, que lembrassem
que eram tempos de paz etc. Mas os trabalhadores queriam melhorar suas
condições de vida e trabalho. E tome greve!! O PCB ficava perdido nisso tudo...
No meio de 1947, o Superior
Tribunal Eleitoral iniciou um processo de cassação do registro do PCB. Era o
impacto da guerra-fria no Brasil. O CC do PCB achou que não ia dar em nada,
pois os “interesses do imperialismo não iriam acabar com a paz entre URSS e
EUA”. Não movendo um palha para mobilizar aqueles milhares que votaram no
partido em 1946. Resultado: no segundo semestre de 1947 o PCB estava de novo na
ilegalidade. Em 1948, os deputados, senadores, vereadores e o senador Luis
Carlos Prestes foram todos cassados, perdendo seus mandatos.
Dutra foi mais generoso com o
PCB até o final de seu governo: foram mortos dezenas de dirigentes do partido.
Era a guerra-fria...
Por outro lado, os generais do
exército recém egressos da Segunda Guerra, ficaram estupefatos com a
organização e ideologia militares norte-americanas. Góes Monteiro era um desses
entusiasmados. Decidiu então sistematizar seus planos da época do Estado Novo:
era necessário criar uma Doutrina de Segurança e Desenvolvimento Nacionais.
Para isso, ele e outro militares, como Juarez Távora, fundaram em 1949 e ESG
(Escola Superior de Guerra), baseada na National War College do Tio Sam. A
intenção da ESG era sistematizar/organizar uma doutrina de pensamento que
levasse Forças Armadas e Estado brasileiro a criar uma sociedade industrial –
desenvolvida em bases da nova fase que o mundo estava vivendo: luta contra o
inimigo maior: o comunismo. O país deveria se transformar em um grande quartel.
A ESG tinha, no entanto duas
diferenças em relação a NWC dos EUA: dava maior importância a luta contra o inimigo interno comunista e não era só
freqüentada por militares. Centenas de civis faziam cursos na ESG. Todos eles
escolhidos a dedo pelo comando da escola: a maioria eram membros da alta
burguesia e tecnocratas (uma mistura de burocrata com técnicos em áreas de alta
tecnologia). Por que será que havia civis na ESG? Pense...
O governo Dutra (1946 – 1950)
criou o plano S.AL.T.E. (saúde, alimentação, transporte e energia). Os
resultados foram decepcionantes, a não ser para o próprio presidente que
engordou uns bons quilinhos durante seu mandato...
Em 1950
realizou-se no Brasil a Copa do Mundo de Futebol. O Maracanã foi construído
para esse evento. A empolgação era geral. A seleção canarinho desfilou até a
final... um dia antes da finalíssima contra os já campeões do mundo Uruguai, os
jornais, as pessoas e todo mundo só falava uma coisa: “Brasil campeão!”. É...
perdemos: 2x1 para “nostros ermanos” com um gol difícil de engolir de Gigghia.
O país chorou muito aquela decepção...
Ao final
do governo Dutra os partidos se preparavam para as eleições em 1950. Para a UDN
abria-se a possibilidade de ganhar uma eleição, mas havia um fantasma que
poderia atrapalhá-los...