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sábado, 19 de novembro de 2016

O governo João Goulart e o golpe civil-militar de 1964

O governo João Goulart e o golpe civil-militar de 1964

Para começar você pode imaginar que o governo de Jango ocorreu com uma forte oposição de todas os grupos e instituições conservadoras-reacionárias que havia no país na década de 1960. Em 1961, associavam-se nesse “bloco” os capitalistas estrangeiros, muitos capitalistas brasileiros, a UDN (é claro!), os militares golpistas e outros. Mas esse bloco vai engrossar – diversos grupos vão aumentar o seu grito exigindo um golpe contra Goulart. Esse “bloco” será chamado até a partir de agora de “multinacional-associado” (R. A. Dreifuss) ou “multinacional-liberal” por representar os interesses do capital estrangeiro e daqueles que se associam econômica e politicamente a esses interesses. Por outro lado, podemos identificar o “bloco nacional-estatista”, defendendo a defesa de interesses nacionalistas e do Estado como promotor das mudanças sociais.
Nesse momento, o governo dos EUA ainda não vê com bons olhos a deposição de governantes na América para “manter o capitalismo”. Por hora, o governo Kennedy aplica seus esforços na “Aliança para o Progresso”, tentando minar a possibilidade de revolução socialista ou mesmo de reformas profundas nesses países. A classe média – que irá aderir por medo do “comunismo ateu” e a Igreja Católica (a mais forte do Brasil à época) ainda não estão totalmente mobilizadas.
Por outro lado, os grupos políticos que representam o pensamento “nacional-estatista” eram heterogêneos, mas – em sua grande maioria – vão apoiar o governo Goulart. Entre estes estavam o PCB, o PTB, o PSB, os políticos da esquerda nacionalista: Leonel Brizola, Miguel Arraes, Francisco Julião (das Ligas Camponesas) e outros. Embora disperso, esse grupo vê o governo de Jango como uma enorme possibilidade de fazer as reformas sociais necessárias para um Brasil melhor. Evidentemente, muitos destes não queriam ficar só nas reformas. Havia adeptos da “revolução”, especialmente após a vitória das Revoluções Chinesa (1949) e Cubana (1959).
Em agosto de 1961, a renúncia de Jânio Quadros e seu plano espalhafatoso de voltar nos braços do povo, dando um golpe de Estado vai por água abaixo. O povo – que Jânio imaginava manipular – não vai às ruas pedir sua volta. O Brasil entra em uma profunda crise política na qual os comandantes militares e setores das elites liberais (UDN) não aceitavam a posse de João Goulart (Jango) e anunciam ao país suas intenções. As rádios são tomadas e os aeroportos controlados pela aeronáutica recebem a ordem de prender Goulart assim que ele pisasse no Brasil (estava em viagem à China socialista). Para piorar, o Congresso Nacional - numa madrugada - viola a Constituição e retira o “vice-presidente” da ordem de sucessão na ausência do presidente. Por outro lado, no Rio Grande do Sul, o governador Leonel Brizola resiste e cria a “Campanha da Legalidade”. Usando os transmissores de uma rádio, ele chama o povo para resistir à tentativa de golpe. O comando do exército dá uma ordem ao Gal. Machado – comandante do III Exército, com sede em Porto Alegre – para prender Brizola, mas aquele se apresenta ao governador e se declara fiel a Legalidade. Diante de manifestações populares em diversas cidades pela posse de Jango (que entra pelo sul do país), os golpistas querem um acordo: Jango assumiria, mas em um sistema parlamentarista. Brizola é contra, mas Goulart aceita a proposta. Curiosamente, no acordo havia uma exigência dos golpistas: Jango não podia falar para a população até a posse; temiam que Jango influenciasse a população a seu favor (lembre-se: as elites olhavam Goulart e viam Vargas!!!) ... a posse será em 07 de setembro de 1961.
O governo Goulart começa com um problema para resolver. Jânio havia mudado regras econômicas por instruções da SUMOC (Superintendência da Moeda e Crédito) e liberado o câmbio do dólar. A moeda subia mais que o esperado e um monte de produtos vindos de fora subiam de preço a níveis que atingiam em cheio o bolso do povão e da classe média.
Além disso, a oposição a Goulart atacava, taxando-o de fraco e desequilibrado para governar. Para variar o maior opositor de Jango era Carlos Lacerda. Devido a seu poder de comunicação (falava muito bem, tinha conhecimento e era dono de um jornal, o Tribuna da Imprensa) Lacerda será eleito em 1962 para governador da Guanabara (era o Distrito Federal; atual região metropolitana do RJ). A partir daí a oposição de Lacerda a Jango cresceu, pois os dois coabitavam o mesmo espaço e o primeiro tinha a “mídia” da época a seu lado e uma enorme força política e policial. Lacerda também era adorado por setores mais extremistas das Forças Armadas.
O projeto de governo de Jango se baseava nas “Reformas de Base” que pretendiam mudar a estrutura sócio-econômica do Brasil, distribuindo renda e acesso aos serviços públicos. Havia reformas em diversas áreas. Vejamos algumas delas:
·         Agrária: projeto de desapropriar as terras ao longo de ferrovias e rodovias para distribuir aos “sem-terras” da época;
·         Administrativa: controlando, p.ex., a contratação de parentes para cargos públicos;
·         Bancária: controlando os lucros exorbitantes que esse setor tinha;
·         Urbana: diminuindo o preço do aluguel ao controlar a especulação imobiliária;
·         Educacional: através do projeto de Darcy Ribeiro que visava uma educação crítica em todos os níveis do ensino nacional;
·         Trabalhista: estendendo a CLT para os trabalhadores do campo e garantindo mais direitos aos trabalhadores urbanos, como a estabilidade de emprego;
·         Econômica: limitava as remessas de lucros das multinacionais ao considerar como lucro tudo o que fosse reinvestido e retirado por meios ilegais do país.

Uma das grandes brigas do governo Goulart foi a questão da Reforma Agrária. Jango esforçava-se muito por esse projeto. O obstáculo maior era que, para desapropriar as terras, o governo era obrigado a pagar o fazendeiro com dinheiro vivo. Jango queria mexer na Constituição, tornando o pagamento possível com títulos do governo. A oposição não aceitava.
 Desde o final da década de 1950 havia sido formado no interior do país, e principalmente no nordeste, as Ligas Camponesas. Organizadas pelo advogado e deputado Francisco Julião, lutavam pela Reforma Agrária. Os “coronéis”, donos das terras – que estavam se preparando para uma guerra – odiavam a ideia de os pobres do campo se organizarem para reivindicar direitos. O pior é que Julião embarcou nessa, foi para Cuba e radicalizando criou o lema “Reforma agrária: na lei ou na marra”. Julião ainda dizia ter milhares de camponeses armados, prontos para agir numa guerra contra os senhores... tudo cascata. Em 1964, não haverá nenhum sertanejo pronto para a luta...
Outro problema para Goulart foi uma decisão tomada pelo então governador do Rio Grande do Sul e cunhado de Jango, Leonel Brizola. Ele expropriou os bens (não as ações) de uma filial da IT&T (International Telephone & Telegraf) - multinacional norte-americana da área de telefonia. A ação contra a “Companhia Telefônica Nacional” ocorreu, segundo Brizola, pois fazia um serviço caro e de péssima qualidade. Ele já havia encampado a Companhia de Energia Elétrica Riograndense, filial de outra norte-americana, AMFORP ou American & Foreign Power (Bond & Share). O governo dos EUA exigiu de Jango uma reparação. Quando houve acordo, a esquerda (forte no bloco nacional-estatista) criticou a quantidade de dinheiro que o governo brasileiro iria dar a IT&T para compensar a expropriação. Brizola dizia:”...não vale tudo isso... é tudo sucata!!”.
A relação com os EUA ainda pioraria quando o governo brasileiro se recusa a apoiar este país contra Cuba durante a crise dos mísseis com a URSS (final de 1962). Goulart defendia o que se chama de “Política externa independente”. Em plena Guerra-fria esta posição era considerada por demais independente para um “paísinho” subordinado como o Brasil.
Nas eleições de 1962, um outro componente entra em cena: o IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais) – instituição organizada e financiada com dinheiro de empresários (nacionais e estrangeiros) e em contacto com a CIA (Central Inteligency Agency - Serviço de espionagem norte-americano) para desestabilizar e, depois, derrubar o governo Goulart. É isso mesmo que você está lendo: o empresariado – a burguesia – pagou para o golpe acontecer! Entre estes magnatas das comunicações na época; donos de colégios e faculdades privadas; além de muitas multinacionais: Ford, Mercedes-Benz, Coca-Cola...
O golpe será chamado por estes de “revolução” e defesa da “democracia” (SIC). Todos se dizem “democráticos, mas como “em política não vale o que se fala, mas o que se faz”... (lembre-se sempre dessa frase), o termo “Democrático” é, no século XX, sinônimo de “capitalismo” de manutenção das desigualdades e da estrutura social desigual e não de uma sociedade mais justa, menos desigual, com direitos civis e políticos...
O IPES, chefiado por banqueiros brasileiros, recolhia “contribuições” dos empresários para financiar todo tipo de propaganda contra o bloco nacional-estatista e, óbvio, Jango. Nas eleições de 1962, houve centenas de candidatos da direita que tiveram suas campanhas pagas pelo IPES ou por dinheiro que o Departamento de Estado do governo dos EUA enviava para as “ilhas da sanidade administrativa”, isto é, a oposição a Jango. Mas – como a direita não é burra – havia uma outra instituição que fazia a fachada para o IPES não aparecer: era o IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática). Por meio desta as campanhas contra Goulart (através de jingles, panfletagem, edições de livros e periódicos, emissoras de rádio etc.) serviram para desgastar a imagem do presidente. Ahh!! ...o embaixador dos EUA também agia, por baixo dos panos, contra o governo...
Mas havia vitórias do bloco nacional-estatista também: Miguel Arraes foi eleito governador de Pernambuco (estado sempre comandado pela direita) e Leonel Brizola foi eleito deputado federal pela Guanabara, com uma votação superior a de Luis Carlos Prestes (PCB) em 1946. O PTB duplicou o número de deputados nessas eleições.
No parlamento, os partidos políticos se dividiam quando ao apoio ao governo Jango. O PTB era, em grande maioria, a favor das ações do presidente. Mas havia dissidentes. O PSD era, a princípio contra, mas pensava negociar algumas das reformas que Goulart queria fazer. A UDN, em maioria era contra, mas havia uns poucos dispostos a conversar.
Perceba que as posições dos partidos estavam divididas entre os dois blocos que disputavam a hegemonia para seu projeto. Por isso é que se formou a ADP (Ação Democrática Parlamentar) congregando políticos da UDN, uma parte do PSD e alguns do PTB. Havia também os políticos do PSP (Partido Social Progressista) do corrupto político paulista Ademar de Barros. Eram favoráveis ao bloco multinacional-associado, mas é claro, alguns tinham ressalvas a fazer ao capital estrangeiro. Por outro lado, havia a FPN (Frente Parlamentar Nacionalista) que articulava a “ala moça” do PSD (como eram chamados os nacionalistas dessa agremiação), o PTB em peso, o PSB (partido socialista brasileiro) que defendia as ideias do bloco nacional-estatista.
O parlamentarismo instituído em 1961 não funcionou. O primeiro-ministro Tancredo Neves saiu do cargo para disputar as eleições parlamentares em 1962. Também estava cansado de tentar articular um sistema de governo misto (meio presidencialista, meio parlamentarista) durante a crise política e econômica que aumentava. Dois outros primeiros-ministros passaram pelo gabinete, mas a insatisfação era grande: Jango queria ser presidente para valer. Outros políticos queriam disputar as eleições de 1965 no presidencialismo. Os empresários achavam que um governo concentrado resolveria a crise econômica. A esquerda queria que Jango assumisse mais poder para poder realizar rapidamente as Reformas de Base. Os militares achavam que com o presidencialismo era mais fácil decidir e resolver problemas.
Como era de seu costume desde o tempo como Ministro do Trabalho de Vargas Jango apoiou as reivindicações de trabalhadores e a formação de uma central sindical de âmbito nacional. Assim, a CGT (Comando Geral dos Trabalhadores) – atuando ilegalmente – coordenava as greves, especialmente de funcionários públicos, com o objetivo de reaver as perdas salariais e de aumentar os direitos dos trabalhadores, apoiando as Reformas de Base e a campanha pela antecipação do plebiscito do presidencialismo para janeiro de 1963.
Realizado o plebiscito o presidencialismo ganhou com esmagadora maioria. Mas Jango teria plenos poderes para poder implantar as reformas de base?
No entanto, havia um problema: a crise econômica se agravara. A inflação ultrapassava os incômodos 40%. O pagamento da dívida externa também estava comprometido. A moeda caia.
Para resolver esse problema, o braço direito de Jango no governo, San Thiago Dantas vai a Washington (EUA) tentar negociar empréstimos para o Brasil. Lá, ouviu promessas e a cobrança de solução da questão da AMFORP. Aqui Brizola denunciava as fraudes que a empresa norte-americana fez para dizer que precisava ser ressarcida. Tudo falso: os americanos já haviam recuperado todo o investimento feito no Brasil, mas mentiam dizendo que estavam em prejuízo. San Thiago Dantas fecha um acordo nos EUA, mas quando chega ao Brasil, a pressão sobre ele é tão grande que sai do governo. Washington não gostou. Achou que Jango perdera seu ponto de apoio. A partir daí, o dinheiro prometido não viria. Com a ajuda do embaixador Lincoln Gordon o governos dos EUA só emprestaria dinheiro aos políticos, estados e municípios que representassem as “ilhas da sanidade”. Perceba: colocar dinheiro dentro de um país, sem a conivência do governo federal, significa passar por cima da soberania do país. É um atentado a essa e uma ofensa ao povo que elegeu e referendou um presidente.
Ao mesmo tempo Jango realizava medidas econômicas e sociais que davam lhe grande prestígio junto à população. Em 1964, o presidente chega a estar com mais de 70% de aprovação em relação às medidas que tomava. E isso, com inflação e tudo. O projeto que Jango aplicava era uma continuação do getulismo, porém aumentando os direitos trabalhistas e sem a mitificação que Vargas fez de si próprio. Podemos chamar de trabalhismo e, segundo Luiz A. Moniz Bandeira, essa projeto político se assemelha muito a social-democracia do início do século XX.
1963 foi um ano agitado para Jango: uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) revela que o IBAD financiou ilegalmente muitas campanhas em 1962. O IBAD foi fechado, mas – por haver muitos deputados envolvidos no caso fazendo parte da CPI – o IPES ficou ileso...
Em agosto um grupo de 500 sargentos se rebela em Brasília. Até a esquerda mais radical foi pega de surpresa. Os sargentos reivindicavam a elegibilidade e a possibilidade de se casarem. Tomam uma rádio, leem manifesto e... a revolta não tinha mais o que fazer. Cercados pelo exército se rendem. As Forças Armadas querem puni-los, mas Jango anistia os rebelados. No embalo dessa revolta, o tom das críticas dos militares ao governo aumenta: muitos generais criticam Jango por causa das greves, “desordem”, “caos”, “comunismo”. Para os militares que aprendem que tudo é “hierarquia” e “ordem”, uma greve é um absurdo. Afinal qual é o problema de um trabalhador morrer de fome desde que esteja obedecendo e respeitando seu superior?
As articulações do governo dos EUA para derrubar Jango aumantam de intensidade quando em 1963, o presidente Kennedy é assassinado em Dallas (Texas). Motivo: não quis invadir Cuba novamante. Foi taxado de “comunista” pelos fanáticos da burguesia bélica e por setores reacionários nos EUA. Seu sucessor, Lyndon Johnson,  mudara a política externa norte-americana para a América Latina: a partir daqui, os golpes de Estado são bem vistos e apoiados. Assim, Vernon Walters (adido militar dos EUA para o Brasil) se tornará uma figura chave para a articulação do golpe junto ao gal. Humberto Castelo Branco. Milhares de militares dos EUA, os “boinas verdes”, são mandados para o nordeste brasileiro com o intuito de lutar contra as forças do governo. As elites brasileiras se preparam para uma “guerra civil”. Fazendeiros compram armas. Lacerda “bate” em Jango o tempo todo: “fraco”, marionete dos comunistas” etc. Bilac Pinto da UDN incita os ricos a se armarem: “Armai-vos uns aos outros, pois nós já estamos armados”...
Em outubro de 1963, diante da suspeita de planos vindos de pessoas ligadas a polícia da Guanabara para matar Jango e sua família no feriado do dia 12, alguns militares nacionalistas pedem para Jango decretar “estado de sítio”. A intenção era destituir Lacerda na Guanabara e Ademar de Barros em São Paulo (pois conspiravam abertamente). Barros compara armas para a força pública (polícia civil) de SP e dizia abertamente que era para a “guerra civil”. A proposta de estado de sítio vai para o congresso, mas não chega a ser votada: diversas entidades e pessoas que apoiavam Jango se recusam a aceitar aquela medida. Não confiando no presidente achavam que ele poderia usar isso para dar um golpe de estado (perceba: mesmo os apoiadores de Jango olham pra ele e veem Getúlio Vargas. Miguel Arraes, em PE, tinha medo de que fosse retirado de seu cargo. A UNE se declara contrária. Brizola e Prestes apoiavam. Com a oposição batendo e os apoios divididos Jango retira a proposta antes de ser votada. Grande derrota...
A partir do início de 1964 o bloco multinacional-associado conspira abertamente para derrubar Jango. Lacerda pede na mídia que os militares derrubem Jango!?!! O governo dos EUA, articulado aqui pelo embaixador Lincoln Gordon e por agentes da CIA, monta a operação “Brother Sam” que previa o desvio de um arsenal de guerra do Caribe para o Brasil... estava previsto para chegar aqui lá pelo 8 de abril. A UDN fala abertamente em “golpe” e “guerra revolucionária” (SIC).
Aumentam o número de greves e manifestações de apoio dos trabalhadores para Jango. Este - pressionado por todos os lados, inclusive pela esquerda mais radical (que incluía seu cunhado Brizola) – desiste de fazer acordos com a direita. 1964 seria ano de reformas de base... na lei ou na marra! Jango faz algumas reformas que beneficiam o povo. Homologa uma lei do tempo de Jânio que prevê limitações as remessas do capital estrangeiro. Essa lei foi feita por um deputado do PSD e Jango – num erro absurdo – demorou para colocá-la em prática. A questão da reforma agrária gera maior controvérsia. Os partidários de Jango, alguns incentivados por Brizola, radicalizam: diziam que com esse Congresso não dava mais para conversar. O negócio era mudar a Constituição através de decreto presidencial. Diziam também ser necessário mexer na não-elegibilidade de Jango ou Brizola para as eleições de 1965. Por sua vez o próprio presidente se isolou dos setores da direita que queriam uma solução “normal” para o impasse. Goulart sempre foi uma pessoa que fez da negociação e da conciliação suas “armas políticas”. Agora abandonou essas armas...
Como resposta, a direita reagia defendendo a legalidade da Constituição, i. e., dizia que Jango era golpista e que preparava um regime de “república sindicalista” nos moldes que R. D. Péron criou na Argentina (de novo, a visão de olhar Jango e ver Vargas...). Acusavam também Goulart de se entregar ao “Movimento Comunista Internacional”. Os jornais se enchiam de charges denunciando Jango como “marionete” de Luis Carlos Prestes e do PCB.
A partir daqui os ânimos vão esquentar: Prestes dá uma entrevista na TV Tupi e chama os generais da direita de “Gorilas golpistas”. Em outro momento provocou: “Já temos o poder, só nos falta o governo...” Perceba: a ideia de gorilas mascara a enorme conspiração civil que estava por trás do golpe. As declarações de Prestes foram, no mínimo, impensadas e provocativas, pois exercer poder é mais difícil do que ser governo.
Em 13 de março de 1964 as forças favoráveis ao governo, especialmente o PTB, promovem na Central do Brasil (RJ) um comício. Arraes, Brizola, sindicalistas da CGT entre outros discursaram. Mas o mais esperado era Goulart. Ao lado de sua bela esposa Maria Tereza ele falou por mais de duas horas. Estava tenso, abandonou o discurso preparado e, emocionado, falou para mais de 100 mil pessoas. Defendeu as Reformas de Base e anunciou a homologação de dois decretos: o da reforma agrária e o do controle sobre as remessas de lucros do capital estrangeiro. Também atacou os que queriam derrubá-lo. O público foi ao delírio.
Próximo dali, o gal. Humberto Castelo Branco viu o comício e – como líder da conspiração decidiu que estava chegando a hora de agir. Para ele era um absurdo a CGT existir, o povo pedir e Goulart conceder. No entanto, mesmo que os militares golpistas se irritassem ainda havia muitos “legalistas” nas Forças Armadas. O que fazer para convencer os indecisos a conspirar contra o governo? No dia 20 de março, Castelo lança uma Circular Reservada unindo os golpistas. E hoje, os golpistas mentem ao dizer que Castelo só aderiu ao golpe de última hora...
Em 19 de março a classe média e a Igreja católica dão uma resposta a Jango. Chamados pela Igreja e por grã-finas ricas que vão às favelas dizer que os comunistas iriam roubar os filhos das pessoas pobres, 500 mil pessoas saem às ruas de SP na “Marcha com Deus pela família e a liberdade”. O embaixador dos EUA, L. Gordon, notou em telex para seu governo que havia pouquíssima participação popular na marcha. Por que será, né?
Os militares dizem que depois de 13 de março eles eram cada vez mais cobrados por membros das classes médias para derrubar Jango. Mas faltava algo... O general Assis Brasil, chefe do Gabinete Militar do governo dizia a Jango que tinha um “dispositivo militar” pronto para enfrentar os golpistas. Cascata? Incompetência? Na “hora H” o tal dispositivo aderiu ao golpe...
Em 24 de março estoura uma rebelião dos marinheiros contra as rigorosas regras internas da marinha e por direitos políticos (reconhecimento de associação sindical, elegibilidade etc.). Tropas do exército são deslocadas para o sindicato dos metalúrgicos do RJ para prender os rebelados, mas aderem à revolta. O mais radical de todos os marujos é o “Cabo Anselmo” ou José Anselmo dos Santos[1]. Para muitos em 1964 ele era um espião da CIA e trabalhava como agente provocador, i. e., para radicalizar a rebelião e tornar as coisas mais difíceis para o governo. A marinha conseguiu prender os rebelados, mas Jango os anistiou. Irritados com a quebra da hierarquia do presidente, os almirantes da Marinha passaram para o lado dos golpistas.
Mas havia mais... no dia 30 de março a noite, Jango numa reunião de sargentos no Automóvel Clube do RJ. Discursa apoiando as reivindicações dos presentes. Foi a gota d’água: lá pelas duas da manhã, quando o discurso terminou, em Juiz de Fora (MG) o gal. Olímpio Mourão Filho (o mesmo do Plano Cohen do golpe de 1937!!) já estava fardado e saiu com suas tropas em direção ao RJ para derrubar Jango. Castelo e outros golpistas, com medo de que o governo pudesse por tropas contra os golpistas, tentaram barrar Mourão mas, não conseguindo, apoiam o general.
Mourão chegou ao RJ às duas da manhã de 01 de abril de 1964. Jango já havia ido para Brasília, mas sabendo que outros generais mexiam suas tropas para prendê-lo, voa para o RS, durante a madrugada do dia 02 de abril. Nesse momento, no Congresso o Senador Auro de Moura Andrade – antigo desafeto de Jango – faz uma sessão relâmpago e, surpreendendo a todos, declara vaga a presidência da República por que Goulart havia deixado o território brasileiro (o que era mentira!). Era a cobertura legal para o golpe que estava em andamento.
Chegando a Porto Alegre Jango se reúne com assessores, Brizola, Ladário Telles (comandante do III Exército) e outros. Muitos queriam resistir, mas Jango não queria ver derramamento de sangue. Vários legalistas queriam, mas não tiveram apoio de Jango para reagir.
Em 02 de abril o golpe estava consumado. O detalhe é que muitos militares indecisos acabaram ficando do lado dos golpistas por uma questão de hierarquia e ordem... outros foram literalmente comprados pelos golpistas...
A CGT foi fechada, a sede da UNE destruída, milhares de pessoas presas e torturadas. O militante Gregório Bezerra (PCB), com mais de 60 anos, foi amarrado à traseira de um jipe na sede do IV Exército em Pernambuco e arrastado pelas ruas de Recife. Além disso, cassação de direitos, humilhações, prisões, expulsão dos legalistas das Forças Armadas e exílio passam a ser uma constante.
“Bem-vindo” ao período mais obscuro da História do Brasil... os longos 21 anos da Ditadura Civil-Militar  (1964-1985).

Fontes:

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BANDEIRA, Moniz. O governo Goulart – As lutas sociais no Brasil (1961 – 1964). Rio de Janeiro:  Civilização Brasileira, 1977. Col. Retratos do Brasil, vol. 110.
BANDEIRA, Moniz. O governo Goulart – As lutas sociais no Brasil (1961 – 1964). Rio de Janeiro: Revan, DF, Ed. da UnB, 2001 – 7ª ed.
BENEVIDES, Maria Victoria M. O governo Jânio Quadros. São Paulo: Brasiliense, s/d. Col. Tudo é História, vol. 30.
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[1] Durante a ditadura Anselmo participou da luta armada e, entregou dezenas de pessoas para a o delegado Sérgio Paranhos Fleury (inclusive uma namorada grávida, para morrer na tortura). Anselmo era um “espião” ou um “cachorro” – na gíria da repressão – que se infiltrava nas organizações armadas e levando informações para a repressão ajuda a destruí-las. Hoje Anselmo vive escondido em alguma cidade do Brasil. Fez plástica, anda de terno e gravata e morre de medo de ser reconhecido... ahh... ele mesmo diz que foi abandonado pelos membros da repressão que ajudou.

sábado, 5 de março de 2016

O conceito de populismo e sua crítica

O conceito de populismo e sua crítica

O conceito de populismo foi criado por liberais anti-varguistas e aproveitado por marxistas. Tanto em uma formulação, quanto em outra o conceito trabalha com o pressuposto de que a população trabalhadora é MANIPULÁVEL.

No caso do marxismo, a análise do populismo diz que os trabalhadores deixam de se tornar "classe", ao não se conscientizarem de sua situação e possibilidades de luta e, assim, se tornam "massa", i. e., manipulável.

O interessante é que, nas duas formulações os trabalhadores são vistos como ingênuos e marionetes, mas nunca como seres pensantes.

Nas primeiras décadas dos anos 2000, surgiram críticas ao conceito de populismo. Historiadores como Jorge Ferreira e Daniel Aarão Reis Filho questionam as raízes teóricas e, principalmente, a falta de pesquisa histórica sobre as relações entre Vargas e os trabalhadores, do ponto de vista desses últimos (!!). Assim, há o que Daniel Aarão chama de "Colapso do colapso do populismo" (numa alusão bem humorada ao livro de O. Ianni, "O colapso do populismo").


As pesquisas históricas recentes desses e outros historiadores mostram que os trabalhadores - embora entrassem no jogo varguista - percebiam no que isso incorria e ainda se questionavam se não era melhor ter Vargas - manipulador e repressivo - do que as elites liberais – que haviam governado o país na República Velha e desde esta época apenas reprimiam... 

Desse modo, na cabeça dos trabalhadores, com Vargas havia alguns direitos trabalhistas... Mas e com as elites liberais? Apenas a repressão policial expressa na conhecida frase atribuída a Washington Luís: “questão social é questão de polícia”.



Referências Bibliográficas:

REIS FILHO, Daniel Aarão. "O colapso do colapso do populismo ou a propósito de uma herança maldita" In: FERREIRA, Jorge (Org.). O populismo e sua história: debate e crítica . Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.


FERREIRA, Jorge. O Imaginário Trabalhista. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2005.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

O “day after” das eleições 2014: cai a máscara da tolerância paulista!



O “day after” das eleições 2014: cai a máscara da tolerância paulista!

A maior arma do dominador é a mente do dominado” - Steve Biko.



            Vendo o resultado das eleições 2014 para presidente da República não pude deixar de imaginar que na madrugada e no dia seguinte, segunda-feira, choveriam na internet demonstrações da falta de educação e dos preconceitos que as elites e a classe média de São Paulo sempre revelam quando contrariadas. Isso é o que o sociólogo Boaventura de Sousa Santos chama de “multiculturalismo reacionário”.
            As camadas mais altas da sociedade paulistana e a classe média quase sempre são assim: o índio é “respeitado” em sua cultura até o momento em que seu ritual, costume ou crença bate a porta dessas classes. Aí, a máscara do respeito à diversidade cultural cai e a verdadeira face reacionária, racista e etnocêntrica vem à tona.
Lembram quando recentemente a presidente Dilma foi vaiada na abertura da Copa do Mundo em São Paulo?
Segundo o jornalista Juca Kfouri, a vaia veio dos setores mais caros do estádio em Itaquera e, a elite paulistana/classe média fez ali uma enorme demonstração de sua falta de educação e desrespeito à democracia, pois trata-se de uma pessoa eleita pelo voto democrático (e não de um ditador, por exemplo).
Agora, com os resultados das eleições 2014 novamente aparecem esses e outros fantasmas – justamente na internet, espaço onde as pessoas se escondem atrás de “nicks” e da ausência de contato real com as outras.
Então vejamos alguns absurdos que foram difundidos e as burrices que eles demonstram:
1°) achar um absurdo que uma região tenha decidido uma eleição e fazer daí um motivo para comentários racistas, bairristas e de preconceitos cultural e social; o que essa atitude não vê é que em eleições sempre há a possibilidade disso ocorrer e, só estamos comentando isso, por que os dados estatísticos das eleições 2014 são tão detalhados que podemos ver quem venceu até em bairros, em zonas eleitorais etc. Mas, pergunta-se: se não tivéssemos esses dados, como estaríamos reclamando disso? Então só há a informação de que o nordeste decidiu nestas eleições... em outras, que podem ter ocorrido coisa parecida mas, nem dados temos...
2°) falar que o estado de São Paulo deveria se separar do resto do país (relembrando o fracassado separatismo do movimento constitucionalista de 1932...) por que votou em “X” e “Y” ganhou; atitude que revela um enorme desconhecimento histórico-geográfico: São Paulo sozinho não tem matérias-primas para se industrializar ou manter os níveis atuais de industrialização; além disso, como centro do sistema capitalista no país, São Paulo explora outras regiões sugando sua riqueza material e intelectual para as empresas e universidades do estado; se fosse outro país, isso não ocorreria com tanta facilidade e São Paulo disputaria esses capitais com outros centros capitalistas;
 3°) falar que os nordestinos votam em partido X e depois vem para São Paulo governado pelo partido Y; desconhecimento histórico-geográfico absurdo: os nordestinos não vieram para São Paulo! Foi a “Era Vargas” que, buscando incentivar a industrialização e auxiliar a burguesia industrial – ao mesmo tempo em que tentava enfraquecer o coronelismo – chamou as pessoas do nordeste para São Paulo. Isso mesmo, o governo levava as pessoas para São Paulo. Não foram os nordestinos que quiseram ir e foram (como pensa a ignorante classe média de São Paulo!); houve sim uma política estatal. Outro detalhe, o maior fluxo migratório do Brasil já não é mais do nordeste para São Paulo, mas do nordeste para a Amazônia e São Paulo tem hoje mais fluxo de pessoas saindo do que entrando;
4°) Achar que a democracia só é válida quando lhe convém; atitude típica do individualismo burguês dessa sociedade consumista-alienada em que vivemos: o pragmatismo dessa ideia está presente na visão de que a democracia só é boa se os pobres (que são taxados de “povinho”, “analfabetos”, “burros” e outras calamidades) votarem no mesmo candidato que a classe média faz... Assim, pensar diferente é absurdo e... hum... hum... isso beira o fascismo!!! AAAAAAAAH!!! Já ia me esquecendo: a classe média acha que o povo não pensa, e é apenas “massa de manobra”... mas, ela própria NÃO percebe o quanto é “PAPAGAIO DE TELEJORNAL” e da (podre) “revista semanal”!!!
5°) O pior é quando vemos “professores” (não dá pra chamá-los de educadores...) que reproduzem tudo isso.. e, veja que, essas excrescências são combatidos nas escolas de São Paulo pelas políticas que o próprio PSDB aplica. A estes “professores” só tenho a dizer: vocês estão fazendo um desserviço para a educação. Saiam da sala de aula!!!
Por fim, há centenas de outras imbecilidades que os “menestréis” da classe média desfilam, demonstrando mais ainda sua intolerância com o “outro”, com as diferenças e diversidades... mas, creio que o que escrevi até aqui, serve a todos aqueles que querem refletir sobre a realidade e se livrar da ignorância, pois como disse um ex-aluno: “Estamos todos presos a correntes, mas só alguns conseguem vê-las”.

Amir Eduardo

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Governo Vargas democrático (1951 – 1954)

Governo Vargas democrático (1951 – 1954)

            Durante o governo Dutra, Getúlio ficou longe das disputas políticas da capital (RJ). O ex-ditador havia sido eleito senador em diversos estados, mas preferiu ficar no seu estado natal (RS). Em 1951 lançou-se a candidato para o cargo a presidência da república. Ganhou estourado... a UDN torceu o nariz. O ódio a Vargas e sua forma “tendenciosa” de fazer política deixava os “liberais” com uma enorme vontade de atacar Getúlio e uma palavrinha na garganta: “golpe!”.
            O governo democrático de Vargas foi marcado por sua posição nacionalista em relação ao crescimento da influencia do capital estrangeiro nos países subdesenvolvidos como o Brasil. Vargas apoiava uma política de nacionalização e estatização dos setores básicos da economia e de melhorias nas condições de vida daqueles aos quais pretendia montar sua base política: os trabalhadores urbanos. Muito agradecidos a Getúlio esse grupo social definia interesses conjuntos e aspirações de melhorias para si. Vargas percebia isso.
            Em relação ao nacional-estatismo, Vargas incentivou uma tendência que vinha crescendo na sociedade brasileira: o nacionalismo desenvolvimentista ou estatista. Vejamos o que é isso:
a)    Nacionalismo é a defessa dos interesses da Nação acima de interesses de grupos ou países estrangeiros. Essa ideologia era forte nas décadas de 1940 e 1950, mas perdeu força nas décadas seguintes.
b)    Estatismo é a idéia de que as mudanças sociais e econômicas devem ser feitas pelo alto, i. e., pelo Estado. Este deve assumir a vanguarda das ações sócio-econômicas a frente da sociedade e de seus grupos sociais. Perceba que essa idéia é contrária ao que os liberais defendem.
c)    Desenvolvimentismo é uma ideologia que foi pensada e sistematizada a partir da década de 1950 pela CEPAL (Centro de Estudos Para a América Latina), que abrangia diversos intelectuais das áreas de economia do subcontinente. O desenvolvimentismo busca soluções para superar a condição de subdesenvolvimento presente nos países latino-americanos. Isso seria possível fazendo esses países alcançarem o nível de industrialização dos países desenvolvidos. Assim, para o pensamento desenvolvimentista o importante é industrializar os países rapidamente. As economias e sociedades da América Latina eram vistas como atrasadas por causa de sua dependência ao mercado internacional na venda de matérias-primas não-industrializadas (herança colonial). Assim, era urgente industrializar.

Na década de 1940 uma discussão acalorou o país: as reservas de petróleo deveriam ser entregues aos capitalistas estrangeiros ou não. A posição nacionalistas era forte. Diversos intelectuais discutiram a questão. Também nas ruas das grandes cidades pessoas comuns defendiam a criação de uma empresa brasileira de exploração de petróleo. Discutia-se também a questão da energia elétrica, dos transportes, da educação de qualidade, mesmo que sem muita profundidade.
Aproveitando-se da onda nacionalista, Vargas criou em 1953 a Petrobrás. Monopolizava as explorações de petróleo e deixava para os estrangeiros o refino e a distribuição. Muitos acharam que ainda era entregar muito para os “gringos”. Mas Vargas, mesmo nacionalista, queria a presença do capital estrangeiro e a amizade de governos como os dos EUA no Brasil. O que ele tentava fazer era balancear as posições nacionalistas com os interesses estrangeiros. Não por acaso foi realizada uma parceria na área militar entre o Brasil e o “grande irmão” do norte em 1952 que previa intercâmbio de treinamentos, técnicas e estratégias de guerra, cursos no exterior etc. Os militares brasileiros, formados numa escola francesa, começavam a se ligar aos EUA.
Se você acha que o nacionalismo-estatista de Vargas não era o bastante para a UDN se bater contra o presidente, você errou: desde o início de seu governo Vargas teve que aguentar as ofensas políticas (o chamava de “fascista”, “hipócrita”, “demagogo”, “manipulador” etc.). Seu maior inimigo era o jornalista Carlos Lacerda, proprietário do jornal carioca Tribuna da Imprensa e o Jornalista Roberto Marinho de “O Globo” ambos do RJ. Todos os dias, em suas páginas descarregavam a raiva da frustada UDN na figura de Vargas.
A partir de 1952 os trabalhadores começaram campanhas salariais. Houve repressão policial e Vargas decidiu mexer no Ministério do Trabalho. Chamou para assumi-lo o então presidente do PTB e seu maior herdeiro político: João Belchior Marques Goulart. Jango, como era apelidado na política era estancieiro de terras no estado de Vargas, o RS e vinha de uma tradição sindical que nasceu com a República democrática (1945-1964). A UDN já ficou com a pulga atrás da orelha. Olhava Jango como um continuador da obra de Vargas.
Logo em suas primeiras ações como ministro Jango chamou representantes de grevistas de 1952 para negociar. Houve acordo, com atendimento a muitas reivindicações dos trabalhadores e a greve acabou. A UDN ficou irritada. Os ataques seriam também contra Jango.
Em 1953 estourou uma greve geral em SP e RJ. Foi “a greve dos 300 mil”. As duas capitais ficaram semanas paradas devido ao peso da greve. A organização fugiu do controle dos sindicatos controlados pelo Estado. O PCB estava por trás. Até agremiações anarquistas ressurgiram das cinzas. Jango não tinha controle sobre o desenrolar da greve.
A UDN e os setores conservadores da sociedade, inclusive as Forças Armadas, exigiam o tratamento que trabalhadores deveriam ter nesses casos: porrada! Mas Jango era um ministro do trabalho diferente: chamou as lideranças sindicais para negociar. Pronto, os setores conservadores acharam aquilo a “gota d’água”. Diziam: “onde já se viu sindicalistas sendo atendidos na sede do governo com o mesmo respeito que nós”. Isso é comunismo!! Absurdo!! Em fevereiro militares lançam o Manifesto dos Coronéis, entre seus assinantes estavam Golbery do Couto e Silva e Silvio Frota. Você ainda vai ouvir falar destas “figuras”...
A pressão sobre Vargas foi tão grande que ele decidiu retirar Jango de seu posto. Mas ao mesmo tempo, para não perder sua base de sustentação deu os 100% que os trabalhadores grevistas pediam. Na contabilidade geral estava 1 X 1, mas a UDN e os militares não aceitaram.
Vargas – acuado – perdia a sua base de sustentação política na burguesia. Seria possível governar só com apoio da população? E as alianças desde 1930? Numa conversa no palácio do Catete disse a um assessor que “alguém tinha que dar um jeito no Lacerda”. Muito provavelmente Vargas se referia a possibilidade de alguém pró-governo, como o jornalista Samuel Wainer discutir com seu Última Hora na imprensa com seu maior oposicionista). O segurança pessoal de Vargas Gregório Bezerra “entendeu o recado”. Contratou um matador para dar cabo de Lacerda. Em 05 de agosto de 1954, o pistoleiro tentou alvejar Lacerda quando este saia de uma reunião num Clube da Marinha. Matou um major da FAB (Força Área Brasileira) e feriu Lacerda. Preso e pressionado o “matador” falou quem o tinha contratado. Era a “gota d’água”.
Em 23 de agosto 30 generais pedem a renúncia de Vargas. Entre eles estava Castelo Branco. Os capitalistas estrangeiros também entraram na briga para desestabilizar o governo Vargas. Para a direita, daquele jeito – atendendo as reivindicações do povo – não dava para governar o país. Também o chamavam de “assassino” e “gangster” para baixo! Pressionado pela eminência de um golpe que o derrubaria, Getúlio comete suicídio em 25 de agosto de 1954. Joga assim seu cadáver nas mãos dos oposicionistas. Afinal, eles não queriam a “cabeça de Getúlio”?
Vargas deixou um bilhete escrito à mão no qual ponderava suas ações como governante, criticava os grupos que queriam entregar as riquezas do Brasil aos estrangeiros e terminava com uma mensagem "falhei...". A família achou o bilhete e não gostou do que o ex-presidente escreveu. 
A família, junto com membros do PTB, reintrepretaram o bilhete criando a "Carta Testamento de Getúlio Vargas"... como se fosse ele que havia escrito!!! Datilografada e com a assinatura de Getúlio tremida, esta diz que a situação do país é culpa das pressões vindas dos interesses multinacionais; diz que lutou com todas as suas forças para defender os interesses do Brasil e - reforçando a imagem de "pai dos pobres" - que saía “da vida para entrar para a História”... dramático, né?
Rapidamente a notícia do final trágico de Vargas correu as ruas das principais cidades. Houve manifestações em todas as grandes cidades brasileiras, a maioria com atos de violência da população contra os inimigos de Vargas: no RJ, a embaixada dos EUA foi depredada a paus e pedras, carros da Tribuna da Imprensa foram queimados; Lacerda teve que fugir do RJ...
A direita reacionária (UDN, militares golpistas, empresas estrangeiras, burguesia nacional e outros) estava armando um golpe de Estado. Esperavam Vargas deixar o poder para assumi-lo. Só não esperavam a reação a morte de Getúlio. Ficaram sem saber o que fazer... muitos fugiram, se esconderam. Nos meses seguintes, o tom das críticas sumiu. Getúlio era agora “O grande estadista que o país perdia”. Se enterro foi disputadíssimo. A população muito chorou sua morte. Neste ouvia-se culparem Lacerda, os EUA, “O Globo” entre outros.
            Até o PCB tomou porrada! O “partidão” vinha difamando Getúlio, chamando-o de “Chefe do imperialismo que colocava o Brasil nas mãos das potências estrangeiras” e daí para mais. Quando veio a notícia de sua morte, em Porto Alegre um carro do jornal do partido “A Classe Operária” foi incendiado.

            No lugar de Vargas, seu vice Café Filho assume a presidência. Pessoalmente apoiara os golpistas. Isso iria dar muito pano para manga ainda... 

O governo Dutra

O governo Dutra  

            O governo de Eurico Gaspar Dutra é marcado pelo realinhamento do Brasil a guerra-fria anti-comunista norte-americana. Lembre-se que ao final da Segunda Guerra (1938-1945) os governos de Moscou e Washington sentaram para conversar sobre os despojos de guerra e o que fazer com as potências derrotadas, particularmente a Alemanha. Em diversas reuniões em Yalta até Potsdam, Roosevelt, depois Trumam pelos EUA e Stálin pela URSS negociaram a paz no mundo. Assim, entre 1945 e 1947 o mundo viveu um pequeno período de “paz negociada”.
            No Brasil os reflexos disso ficam claros quando o PCB fora legalizado e pôde em 1946 disputar as eleições gerais, fazer campanha nas ruas – enchendo estádios de futebol para o público ouvir o “camarada” Prestes falar – e eleger muitos pecebistas para diversos cargos.
            A legalidade do PCB no entanto durará um minúsculo ano. Dois motivos deixam o partido em situação “difícil” e levam a cassação de seu registro em meados de 1947. O primeiro, mais claro é o rompimento de EUA e URSS da política de “conciliação”, a partir desse ano. Agora a Guerra-fria era para valer!
O segundo motivo foi que houve uma série de greves entre 1946 e 1947 de categorias de trabalhadores que, aproveitando-se das liberdades restituídas nesses “tempos democráticos”, exigiam melhorias salariais. Uma das greves que mais se destacou foi a dos bancários de SP em janeiro/fevereiro de 1947. A posição do PCB nessas greves era ambígua e indecisa. Se por um lado era um partido que tendia a apoiar todas as manifestações dos trabalhadores, por outro – de olho nos acontecimentos mundiais – procurava não promover ações que pudessem desestabilizar o governo Dutra, pois este, aliado dos EUA, estava em “lua-de-mel” com a URSS. O Comitê Central do PCB (CC) pedia aos grevistas que não se excedessem, que lembrassem que eram tempos de paz etc. Mas os trabalhadores queriam melhorar suas condições de vida e trabalho. E tome greve!! O PCB ficava perdido nisso tudo...
No meio de 1947, o Superior Tribunal Eleitoral iniciou um processo de cassação do registro do PCB. Era o impacto da guerra-fria no Brasil. O CC do PCB achou que não ia dar em nada, pois os “interesses do imperialismo não iriam acabar com a paz entre URSS e EUA”. Não movendo um palha para mobilizar aqueles milhares que votaram no partido em 1946. Resultado: no segundo semestre de 1947 o PCB estava de novo na ilegalidade. Em 1948, os deputados, senadores, vereadores e o senador Luis Carlos Prestes foram todos cassados, perdendo seus mandatos.
Dutra foi mais generoso com o PCB até o final de seu governo: foram mortos dezenas de dirigentes do partido. Era a guerra-fria...
Por outro lado, os generais do exército recém egressos da Segunda Guerra, ficaram estupefatos com a organização e ideologia militares norte-americanas. Góes Monteiro era um desses entusiasmados. Decidiu então sistematizar seus planos da época do Estado Novo: era necessário criar uma Doutrina de Segurança e Desenvolvimento Nacionais. Para isso, ele e outro militares, como Juarez Távora, fundaram em 1949 e ESG (Escola Superior de Guerra), baseada na National War College do Tio Sam. A intenção da ESG era sistematizar/organizar uma doutrina de pensamento que levasse Forças Armadas e Estado brasileiro a criar uma sociedade industrial – desenvolvida em bases da nova fase que o mundo estava vivendo: luta contra o inimigo maior: o comunismo. O país deveria se transformar em um grande quartel.
A ESG tinha, no entanto duas diferenças em relação a NWC dos EUA: dava maior importância a luta contra o inimigo interno comunista e não era só freqüentada por militares. Centenas de civis faziam cursos na ESG. Todos eles escolhidos a dedo pelo comando da escola: a maioria eram membros da alta burguesia e tecnocratas (uma mistura de burocrata com técnicos em áreas de alta tecnologia). Por que será que havia civis na ESG? Pense...
O governo Dutra (1946 – 1950) criou o plano S.AL.T.E. (saúde, alimentação, transporte e energia). Os resultados foram decepcionantes, a não ser para o próprio presidente que engordou uns bons quilinhos durante seu mandato...
            Em 1950 realizou-se no Brasil a Copa do Mundo de Futebol. O Maracanã foi construído para esse evento. A empolgação era geral. A seleção canarinho desfilou até a final... um dia antes da finalíssima contra os já campeões do mundo Uruguai, os jornais, as pessoas e todo mundo só falava uma coisa: “Brasil campeão!”. É... perdemos: 2x1 para “nostros ermanos” com um gol difícil de engolir de Gigghia. O país chorou muito aquela decepção...
            Ao final do governo Dutra os partidos se preparavam para as eleições em 1950. Para a UDN abria-se a possibilidade de ganhar uma eleição, mas havia um fantasma que poderia atrapalhá-los...


O fim do Estado novo e as eleições de 1945

O fim do Estado novo e as eleições de 1945

Com a derrota do nazi-fascismo na Europa a situação de Vargas ficou insustentável no Brasil. Por quê? A vitória dos Aliados na guerra deixava os sistemas democráticos ocidentais em relevância. O Brasil não poderia fugir ao ritmo dos acontecimentos mundiais. Era preciso adaptar-se às eleições democráticas e essa exigência vai canalizar um desejo de amplos setores da sociedade para que o estado novo acabe.
Os primeiros a pressionar Vargas para tal fim formam os generais militares que estavam na Segunda Guerra. Já de volta ao Brasil, em agosto de 1945 proclamam o “Manifesto dos Militares” que pede a saída de Vargas do poder. Este se sentiu traído, pois estes militares eram generais  por sua causa e ainda eram de seu apoio (G. Monteiro, E. Dutra etc.).
As oligarquias liberais que odiavam Vargas por causa do atendimento as reivindicações dos trabalhadores urbanos começaram a pedir a cabeça do ditador. Essas elites liberais começavam a se unir para formar um partido político: a UDN (União Democrática Nacional), defendiam uma participação dos letrados na política e o fim dos direitos trabalhistas indos do Estado Novo. Bem democráticos, você não acha?
O PCB – que foi quase destroçado durante o Estado Novo – começou a se rearticular no segundo semestre de 1943 na “Conferência da Mantiquera” e através do grupo comunista do RJ e do NE que criou o CNOP (Comitê Nacional de Organização Provisória) em desacordo com os comunistas de SP. A posição do PCB aqui era de ofender Vargas, chamando-o de ditador e exigir sua queda. Mas as coisas vão mudar...
Vargas – astuto politicamente - percebeu que não havia mais como ficar no poder. Por isso criou dois partidos políticos para os tempos democráticos que estavam por vir: o PSD (Partido Social Democrático) – que abrangeria as elites beneficiadas pela máquina do Estado Novo; e o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro, nada a ver com o atual) - para representar os direitos dos trabalhadores conquistados no Estado Novo e enfrentar o PCB.
Os trabalhadores urbanos de RJ e SP não esqueceram de Vargas. Apoiados por políticos e sindicalistas ligados à estrutura de sindicalismo oficial do Estado Novo, criam em meados de 1945 o “Movimento Queremista” ou “Queremos Getúlio”. Pediam a continuação do ditador no poder!! Lutavam por  uma nova constituição, mas que fosse presidida por Vargas!! E ainda exigiam que Vargas fosse candidato nas próximas eleições!!
Como diz o historiador carioca Jorge Ferreira: Estranho país esse, heim? O povo pede para o ditador ficar, pois tem medo que os liberais “democráticos” retirem-lhes os direitos e os coloquem numa situação anterior a 1930... i. e., sem direitos e sendo tratados como “caso de polícia”...
Foi aí que o PCB acordou... os trabalhadores “queriam Getúlio”!! Em 1945, ainda com Prestes preso, mas já “dando as cartas” o partido muda de lado e começa a apoiar Vargas. Êta país cumpricado, sô!?
Sob enorme pressão dos militares e dos liberais Vargas é retirado do poder e 29 de outubro de 1945. Marcadas as eleições para novembro de 1945 surgiram três candidatos:
O brigadeiro Eduardo Gomes (UDN) era opositor de Vargas desde o Estado Novo e baseou sua campanha no lema “Lembrai-vos de 37” em cartazes que demonstravam o rosto de pessoa com venda nos olhos e na boca.
O general Eurico Gaspar Dutra (PSD-PTB) foi apoio de Vargas até 1945 e era o candidato das oligarquias do Estado Novo. Seu coordenador de campanha Hugo Borghi fez de tudo para que Vargas – isolado no RS – lhe desse apoio, mas o ex-ditador negava dizendo que Dutra o teria traído.
O engenheiro E. Fiúza (PCB) era um desconhecido, mas o partido percebendo que Vargas não apoiava Dutra tentou chamar a atenção do ex-ditador com a candidatura de seu amigo (Fiúza). O PCB estava a partir de outubro de 1945 na legalidade, devido aos acordos de paz do pós-guerra entre EUA e URSS. Essa situação não vai demorar para modificar-se, viu?!
Em que a população votava? Em ninguém!! Ou melhor: pediam para que Vargas fosse candidato, senão não iriam votar! Estranho povo, né?! Eleições “democráticas” com candidatos “novos” e eles querem Vargas. “Santa teimosia”... “O povo não sabe votar”... “Vargas – aquele fascista - controlou até as mentes dos pobres!” diziam os liberais da UDN. Mas qual a realidade?
Dutra era um substituto que não chegava ao pé de Vargas. Sem carisma, o militar não conseguia nem sorrir quando se encontrava com o povo nas praças. Eduardo Gomes era mais frio ainda... coisa de militar. Chegou até a dizer que não “preciso dos votos dos marmiteiros” (a palavra tinha outro significado na época). Hugo Borghi vai propagar que Gomes havia dito que os trabalhadores não precisavam votar nele... mas a tática não impulsionou a campanha de Dutra... Fiúza era um desconhecido. A estratégia do PCB não deu certo. No entanto, para deputados federal e estadual, para o senado e outros o PCB recebeu votações enormes. Prestes, libertado da cadeia elegeu-se senador com a maior votação da época. Jorge Amado, Marighella, Gregório Bezerra, Maurício Grabois e outros elegeram-se deputados federais. Começava a surgir o “Partidão”...

Na ultima semana de campanha, Borghi viaja até o RS e convence Vargas a dar apoio a Dutra. Estava Ganha a eleição!!!