Correção da Atividade sobre escravidão/abolição:
1° - Considera-se escravo a pessoa que perdeu a liberdade para agir de acordo com seus livre-arbítrio e é obrigada a servir compulsoriamente a outra pessoa. Não se pode determinar características físicas ou sócio-políticas como condições para ser escravo, como por exemplo "cor de pele" ou "raça", pois ninguém nasce para ser escravo, portanto, o conceito de escravidão deve servir para épocas diferentes e, na escravidão antiga, a cor de pele ou a ideia de raça inexistiam. Por isso, esses fatores não eram determinantes para escravizar alguém ou um povo. Essas ideias racistas só vão aparecer no escravismo atlântico (Américas entre os séculos 16 e 19).
2 - O documento foi publicado em um jornal da província de S. Paulo pouco mais de um mês depois da abolição da escravidão. O autor, uma pessoa provavelmente "branca" (isto é, ocidental) e alfabetizada (num país que a grande maioria era analfabeta), escreveu o texto para um público muito específico: camadas médias altas e altas da sociedade paulistana (isto é, "brancos", como o autor). Entende-se "branco" não como cor de pele, mas como portador de ideias e valores da sociedade ocidental-cristã. Na época, a sociedade brasileira apoiava a abolição, mas tinha MEDO que os negros libertos se vingassem dos anos de escravidão, especialmente por que imaginavam que os "pretos" eram primitivos e selvagens como animais (ideia baseada no Darwinismo social ou racismo científico do século 19). Por isso, o texto fomenta o medo aos negros livres. Lembre-se, as personagens principais, Tia Josefa e Manoel Congo, querem ganhar a confiança dos habitantes da cidade, mas - segundo o autor - são apresentados com olhos felinos" e "cheios de sangue"... e acabam fazendo um ato de enorme barbárie ao dar a carne da pequenina Nini (apresentada propositadamente no texto como branca, bonita e saudável) para a própria mãe comer - após a menina ter morrido de um resfriado forte no qual o autor induz o leitor a acreditar que foram os remédios caseiros de Tia Josefa que a mataram (na realidade, nos fins do século 19 houve uma surto fortíssimo de pneumonia e que, na época, não tinha cura).
Assim, o autor racista consegue levar o leitor a ter ódio e medo dos negros, para propagar a ideia de que o Estado teria que tutelar os negros livres, a Igreja Católica teria que criar as "Escolas de Correção" e os negros fossem segregados sócio espacialmente para as periferias das cidades.
3 - Existe aí uma lógica da dominação do estuprador que a filósofa M. Tiburi descreve como a que culpa a vítima pelo ato de violência que ela mesma sofreu; assim, a mulher é culpada de ser estuprada pois se mostrou como mulher (usando roupas chamativas, por exemplo). Essa lógica inverte a realidade (portanto, é um discurso ideológico), colocando a culpa do ato violento na vítima e assim reforçando o pensamento que a autora chama de "lógica do estuprador", no qual o erro não está no homem-agressor que violenta a mulher, mas na mulher-vítima que não se comportou corretamente.
Essa lógica aparece também para os negros no século 19, quando a sociedade culpa o negro pela escravidão (!!?!), pois eles teriam a aceitado (???) - vista à época como característica de povos primitivos. A sociedade brasileira da época busca deslocar para os negros toda sua conivência com séculos de escravidão. Assim, no pensamento da sociedade (que é um mecanismo de defesa psicológica) o negro se comportou como primitivo e, assim, aceitou ser escravo...
O próprio imperador, D. Pedro II, faz um esforço enorme para mostrar o Brasil como um país moderno e adequado aos padrões europeus. Assim, cria uma mitologia que esconde do mundo as raízes escravocratas da elites e a própria estrutura sócio-política do Brasil.