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domingo, 17 de maio de 2020

As vilas operárias em São Paulo no início do século 20


As vilas operárias em São Paulo no início do século 20


Com a disciplina imposta nas vilas operárias, a burguesia pretendia fabricar indivíduos produtivos e submissos, pois, as vilas representam a vontade de impor sutilmente um estilo de vida, através de punições e normas disciplinares, que regem o trabalhador, em todos os lugares: do trabalho ao lazer.
Nas primeiras décadas do século 20, são construídas várias vilas operárias, em geral ligadas a uma fábrica: em São Paulo, Vila Maria Zélia, no Belenzinho; Vila Prudente no Ipiranga; Vila Crespi na Moóca; Vila Nadir Figueiredo, Vila Economizadora, Vila Beltramo, Vila Cerealina, Vila de Votorantim e de Santa Rosália.

As vilas operárias permitem controlar a economia interna do trabalhador e seu próprio tempo fora da esfera do trabalho, diminuindo os lugares em que podia circular. Em 1.916, Jorge Street dizia: “Em redor da fábrica mandarei construir (...) um grande coreto para concertos, salão para representações e baile; escola de canto coral e música, um campo de football, uma grande igreja com batistéiro; um armazém com tudo que o operário possa ter necessidade para sua vida (...) uma escola para os filhos do operário e creches (...). Quis dar ao operário (...) a possibilidade de não precisar sair do âmbito da pequena cidade que fiz construir à margem do rio, nem para a mais elementar necessidade da vida (...) evitar que freqüentem bares, botequins e outros lugares de vício, afastando-os especialmente do álcool e do jogo”.
Street tem claro que deve estabelecer laços emocionais de dependência paternalista, atingindo a família do operário. Enquanto que nas fábricas da família Scarpa o modelo de vila operária se assemelha a uma prisão:
Patrocinado pela sociedade, que gratuitamente dá sede, zelador, água e luz, há uma sociedade de futebol (...) tendo seu campo próprio. (...) Organizam-se festas atraentes sob a rigorosa fiscalização de seus criteriosos diretores”.

O futebol também era (e ainda é) usado como forma de controle. O esporte bretão surge no Brasil como uma prática da elite. Pobre não jogava. Mas após as greves de 1905 à 1918, a prática do futebol foi liberada para os trabalhadores (enquanto que a capoeira foi proibida !). O próprio governo estadual fez campos de várzea para incentivar os operários a se “distrair” - a intenção era eles pararem de fazer greve ! Para poder jogar nos clubes das fábricas, era preciso ter contrato de trabalho e ser bom operário. O que significa que os grevistas não podiam jogar. Tudo para disciplinar e controlar os trabalhadores.
Muitos séculos antes disso, o império romano criou a política do "pão e circo" para diminuir o interesse dos pobres em lutar por seus direitos. Ao que parece, a burguesia brasileira da época aprendeu muito bem a lição. Sobre as horas livres do trabalhador, impõem-se recreações moralizadoras e alienantes, impedindo que cada um use livremente de seu próprio tempo.


As vilas eram cercada por muros, e o acesso à ela totalmente controlado e restrito aos seus moradores. O jornal anarquista “A terra livre” denunciam que “Os operários são obrigados a morar nas casas da Companhia (...) têm também de fazer compras na cooperativa (...), foi proibida entrada aos vendeiros e padeiros: não há remédio senão comprar no armazém da fábrica”.
Não se admitiam mulheres de vida duvidosa, bêbados, nem namoro nos portões, que eram fechados às 21 h, e na Vila Maria Zélia, com o toque de recolher soando. Nas vilas, as crianças que freqüentavam as escolas eram formadas pelas idéias de submissão ao domínio capitalista, denunciava “A Plebe”. Nela se passavam conteúdos altamente repressivos, onde o industrial, a Igreja e o Estado são elevados à condição de personagens principais e tornados santos.
Nas igrejas das vilas, eram propagadas as idéias de tempo útil, trabalho, disciplina, produtividade, pecado e culpa, condenação da ociosidade.
Os regimentos disciplinares também eram externos, como os “códigos de obrigação” da Fábrica Cedro e Cachoeira que proibiam: “Art.1 – Consentir ou dar em casa jogos, batuques ou reuniões imorais, consentir bebedeiras, desordens, espancamentos e tudo o mais que perturbar o sossego público”. “As casas devem ser lavadas a cada oito dias  e cuidadas umas plantas (...) sob pena de multa. Os operários que são encontrados conversando particularmente com uma moça, ou são despedidos, ou obrigados a casar. Quem ri dentro da fábrica é multado” (A Terra Livre).
Ainda sobre a vigilância, a arquitetura reproduz o modelo inglês: as casas são dispostas em torno da fábrica, que permite ao industrial a um só olhar vigiar e controlar o comportamento de muitos. A maioria das vilas tinham casas de tipos e tamanhos diferenciados de acordo com a categoria dos operários. Um exemplo disso é a vila de Paranapiacaba (hoje, distrito de Santo André).





A limpeza do espaço público em São Paulo no início do século 20


A limpeza do espaço público em São Paulo no início do século 20

No início do século os surtos de doenças ameaçam invadir as casas elegantes dos recentes bairros ricos, como os Campos Elísios ou Higienópolis (Cidade da Higiene). Além disso, a população pobre da cidade, é para os especialistas da saúde pública, a fonte da “casa imunda”, para eles, o trabalhador era incapaz de manter sua própria vida, pois eram bárbaros e precisavam deles, os civilizados, para a criação de condições ambientais que favorecessem a formação de personalidades sadias.
A higiene pública vê-se na obrigação de garantir o controle do ar e da água nas casas, ruas, cidades, fábricas, escolas, hospitais e prisões. O Dr. Figueira de Mello salientava: “A melhoria da habitação operária (...) acarreta consigo a resolução de uma série de necessidades, que tem por origem, vícios e defeitos de ordem moral e física”. Perceba: os riscos de infecção são denunciados de forma alarmista e sensacionalista pelos médicos, que propõe mecanismos de “correção”. Os trabalhadores são transformados em objetos de observação e de análise dos especialistas: botequins, bordéis e habitações operárias (cortiços). Para o burguês a população pobre é incapaz de elaborar idéias sofisticadas e de exprimir sentimentos delicados. Esta ideia justifica a aplicação de ações autoritárias, que pretende ensinar-lhes hábitos “racionais”. São determinadas proibições de construção de cortiços e a eliminação dos existentes, além da intimidação dos operários com multas sanitárias. Era total o desinteresse da classe dominante pela vida do pobre. Mas o desrespeito era enorme...
No entanto, a estratégia de desinfecção que torna o pobre limpo está ligada à submissão como um trabalhador comportado e produtivo (!). 
Surge, então a ideia de construção de vilas operárias nos bairros periféricos de São Paulo.


Vida e criminalidade: São Paulo e Rio na virada do século 19 para o 20


Vida e criminalidade: São Paulo e Rio na virada do século 19 para o 20


Vamos analisar agora as condições de vida desses trabalhadores no início deste século. Primeiramente, lembre-se, em S. Paulo havia uma grande massa de italianos (cerca de 70%), e 30% de nacionais e outros, enquanto que no RJ, havia uma separação bem clara (às vezes até racista) entre portugueses, negros e mulatos, seguidos por espanhóis e outros.
Entravam no Estado de SP uma quantidade de pessoas muito grande, vindas do exterior. Havia muitos trabalhadores aqui, então os salários eram baixos. Em 1904, o jornal anarquista dos operários de São Paulo “La Bataglia” advertia em matéria intitulada “Trabalhadores da Europa, não venham para o Brasil” que aqui: “só há trabalho para os que se submetem a ser bestas de carga por um salário irrisório”; ou que “não é verdade que aqui há trabalho para todos”, pois “os patrões obrigam a trabalhar e não pagam”. Outro detalhe, a produção de café, depois de ter passado por uma crise no fim do século XIX, estava no início deste século aumentando em pés plantados. Os cafeicultores exigiam cada vez mais do governo, a entrada de mão-de-obra para a lavoura.
Pelo fato de que “no Brasil, não existe nenhuma garantia para o operário e muito menos para o estrangeiro”, e ainda, é mentira que “são dadas garantias aos estrangeiros” (La Bataglia) muitos dos que entravam, fugiam das fazendas constantemente e, destes, muitos iam para a cidade de S. Paulo. Na virada do século, a cidade era apenas um montinho de casas sem lojas de comércio, ruas asfaltadas, iluminação pública, enfim S. Paulo era um amontoado de casas cercado por sítios !! A vinda de milhares de pessoas para essa região, aliada aos que já moravam aqui e ganhavam salários baixíssimos e por isso, viviam em cortiços, ocasionou a aglomeração dos trabalhadores em uma condição de pobreza muito grande. O La Bataglia não deixa de advertir que “há mais gente que morre de fome do que se possa imaginar, há misérias que o velho mundo ignora totalmente”.
Trabalho nas firmas (ainda artesanais) ou no pequeno comércio não existia para todos. Se fizermos uma comparação com o Rio de Janeiro, veremos que: lá estavam a maioria das indústrias do país; o comércio era mais intenso que aqui devido ao próprio porto da cidade (enquanto que S. Paulo era local de passagem das safras de café que seriam embarcadas em Santos); e o RJ era a capital do país (mesmo assim, você já viu que lá houve a Revolta da Vacina e que as condições de vida na cidade maravilhosa não eram nada maravilhosas assim). Agora imagine como era S. Paulo !!
Além da condição de pobreza, a população das duas maiores cidades do país não tinha escolas, estando sujeita ao desconhecimento das causas de muitas doenças. Porém, como você já viu no estudo sobre a Revolta da Vacina, as elites agrárias e industriais queriam que os trabalhadores vivessem ao modo da burguesia, tirando-lhes a liberdade e reprimindo qualquer forma de manifestação que não fosse agradável à burguesia.
Como advertiu o Jornal anarquista La Bataglia, “a vida e a liberdade dos cidadãos [...está] à mercê de uma Polícia feroz, selvagem, que rouba, violenta, mata impunemente, movida apenas pelo instinto de mando e pelo hábito da roubalheira”.
Sobre a polícia, podemos acrescer que em muitos casos só prendia para dar um susto, sem processar os detidos. Isso revela o objetivo das prisões como instrumento de controle social. Comum também eram as prisões para “verificação”, que revelam uma preocupação com a ordem pública e as normas do trabalho. Outra preocupação era a “capoeiragem” na cidade do Rio de Janeiro depois da abolição e da Revolta da Vacina. Esse é um exemplo de repressão a uma camada social específica, discriminada pela cor.
Em S. Paulo, as autoridades aproveitaram de certas ocasiões para a adoção de medidas repressivas para “limpar” a cidade. Das pessoas presas na cidade entre 1.904 e 1.906, negros e mulatos são presos em proporção maior a que todos os outros grupos na cidade, sendo que o maior número era de negros detidos. A ideia de inferioridade da cor negra aparece na boca de testemunhas que são negras ou mulatas. Nas idéias do povo, estão ligados o negro e o ócio e a violência. Uma das estratégias poluidoras das imagens dos acusados brancos nos crimes sexuais era criar uma referência à sua “amizade com pretos”, “ter-se abrigado na casa de uma preta”, etc. 


domingo, 10 de maio de 2020

Anarquistas e socialistas: Ideias do movimento operário no século 19


Anarquistas:

Querem destruir o capitalismo diretamente com uma revolução social: uma grande greve geral seguida de uma insurreição armada, feita por todos os grupos oprimidos pelo capitalismo: mulheres, loucos, trabalhadores, mendigos, criminosos, prostitutas, etc.
São contra tudo o que possa oprimir o ser humano, tais como Estado (inclusive o socialista), igreja, capital, imprensa burguesa, leis, política parlamentar, polícia, exército, desigualdades sociais, machismo, racismo, etc.

Errico Malatesta

Emma Goldman


Mikhail Bakunin

Pierre-Joseph Proudhon
   
Admitem o uso dos sindicatos como instrumentos de luta contra o capitalismo, mas não aceitam que este tenham diretorias fixas por um tempo de cargo, os sindicatos devem ser organizados pelos próprios trabalhadores, sem haver pessoas pagas para administrá-los.
São contra partidos políticos e eleições, por isso votam nulo e criticam os comunistas por participarem de eleições e querem ganhar governos e cargos.

Acreditam nos princípios da liberdade, igualdade e solidariedade de forma absoluta, por isso são favoráveis ao amor livre, as relações homos afetivas e ao feminismo, também são contra guerras e armas nucleares e procuram mostrar às pessoas a importância de viver coletivamente e em harmonia com a natureza.
Agem de acordo com a ação direta (que resultem em algo concreto, sem ter resultados práticos) e a desobediência civil (desobedecer as leis que impõe sobre os trabalhadores a dominação da burguesia, mas sem afetar a liberdade de outras pessoas).
                  

Socialistas Marxistas ou "Socialistas científicos"



Querem destruir o capitalismo seja por uma revolução operária ou por meio de eleições, liderados pelos operários e seguido pelos demais trabalhadores.
São a favor da participação do partido operário ou comunista nas eleições e, por isso procuram mostrar aos trabalhadores  que o voto deve ser dado ao partido comunista que deve educar os trabalhadores para a revolução socialista e depois para o comunismo.
Acreditam que o socialismo deve desenvolver Estado operário (ou Estado socialista), imprensa, leis, política, polícia, exército nas mãos dos trabalhadores sem que haja desigualdades ou classes sociais.
Criticam a exploração dos trabalhadores, que ocorre de modo disfarçado no capitalismo. É a mais-valia.
Admitem o uso dos sindicatos como instrumentos de luta contra o capitalismo, mas de forma a trabalhar para o partido comunista. Os sindicatos devem ter diretorias dos próprios trabalhadores fixas por um tempo de cargo, pagas para administrá-los.
Acreditam que o capitalismo gera uma perca de consciência dos trabalhadores (alienação), que não percebem sua importância na produção e assim, não percebem o quanto o burguês perderia se parassem de trabalhar (greve).


Acreditam nos princípios da liberdade, igualdade e solidariedade entre os proletários, por isso são favoráveis a todas as formas de emancipação das coletividades e procuram usar a natureza para o desenvolvimento econômico.
Defendem o internacionalismo proletário, isto é, que os "trabalhadores do mundo todo, unam-se" (Manifesto Comunista) contra a exploração do capitalismo, que ocorre independentemente dos trabalhadores serem ingleses, franceses, alemães, norte-americanos etc. (O socialismo do século 19 vai contra o nacionalismo da época).
Acreditam que não deve existir propriedade privada dos "meios de produção" (terras, fábricas, lojas etc.). Tudo isso deve ser administrado pelos trabalhadores e pelo Estado socialista.





O tenentismo (Brasil, década de 1920)


O tenentismo (1922 – 1930)

Após a 1ª Guerra Mundial, o governo brasileiro – vendo que o exército estava muito despreparado em relação a outros exércitos europeus – decide mandar tenentes para estudar na França. Um tenente é um aspirante a cargos mais altos no exército. Para isso, ele deve estudar dentro da instituição.
Quando estes voltam, se deparam com um exército despreparado, sem equipamentos, sem estrutura para melhorias (estudo, logística etc.). A decepção é enorme. Esses tenentes começam a criticar o exército, mas logo essas se voltam para o governo das oligarquias, que não investem em nada que não esteja voltado a seus interesses, segundo os próprios tenentes. Além disso, eles eram preocupados com as condições sociais e políticas do país e veem na grande pobreza no povo brasileiro e na corrupção do governo, os maiores problemas do Brasil.

 "18 do forte"

Em 1922, no Forte de Copacabana (RJ), ocorre a primeira conspiração de tenentes com o objetivo de derrubar o governo. As primeiras ideias foram de marchar até o Palácio do Catete (sede do governo federal). No entanto, “na hora H”, a maioria dos tenentes desiste. Alguns poucos tenentes decidem sair às ruas mesmo assim. São 17 tenentes armados e com pedaços da bandeira do Brasil presas ao peito. Na rua, um civil se junta a eles. Porém, os planos haviam vazado e tropas do governo cercavam o local. Houve troca de tiros e apenas 2 tenentes sobrevivem.
Revoltados com a repressão que o governo federal realizou em Copacabana, de 1922 até 1924, começaram a estourar manifestações tenentistas em diversos fortes do país. Em 1924 eles tomam a cidade de São Paulo, liderados pelos tenentes Miguel Costa e Siqueira Campos. Durante as duas semanas que dominaram a cidade, a estratégia das tropas fiéis ao governo era bombardear os bairros operários, pois estes eram o principal apoio dos tenentes. Só pra você ter uma ideia, em 1924, há mais de 900 greves em São Paulo (!).

São Paulo bombardeada

Em sua maioria anarquistas, os líderes operários pediram para Siqueira Campos para dar armas para os operários. A princípio, os tenentes acharam uma boa ideia. Mas, dias depois conversando com industriais foram alertados de que “os operários vão fazer aqui, o que fizeram na Rússia!”. Depois dessa, desistiram de da ideia.
Percebendo o impacto que os fortes bombardeios causavam ao povo de São Paulo, os tenentes decidem se retirar da cidade, rumo a oeste, em direção a Foz do Iguaçu. No caminho, são atacados pelas tropas governistas.

Tenentes em São Paulo

Ao mesmo tempo, um ex-tenente apelidado de "Bigodinho" (era o capitão de engenharia civil Luiz Carlos Prestes), foi mandado a Santo Ângelo (interior do RS) para supervisionar a construção de quartéis, devido a suspeita de tramar a revolta em Copacabana em 1922. Ele não pode participar, pois estava doente, com tifo. No sul do Brasil, Prestes organiza os tenentes para um a rebelião. O governo federal manda tropas de Porto Alegre para a região, mas os tenentes se retiram antes do exército chegar, rumam para o norte, enfrentando e vencendo as tropas federais pelo caminho.

Luiz Carlos Prestes

Os tenentes gaúchos e paulistas acabam por se encontrar na tríplice fronteira, em Foz do Iguaçu. Os paulistas queriam fugir, mas Prestes decidiu misturar os tenentes e criar uma nova organização: a “Coluna Prestes-Miguel Costa” (depois só Coluna Prestes). Esta durou de 1924 a 1927, percorrendo 25 mil quilômetros a pé e marchando em regiões desérticas para despistar o exército. Muitas pessoas se juntavam à coluna durante a marcha. As lutas contra o governo não tinham muitas baixas, pois os tenentes tinham treinamento no exterior e Prestes era um bom estrategista.


Em alguns lugares a Coluna Prestes era mal recebida, devido à "propaganda" feita pela Igreja e pelo governo contra ela. Em uma cidade do Ceará, um padre organiza uma resistência. Derrotado, é “julgado” pelos tenentes e castrado em praça pública (!).

 Coluna Prestes

O objetivo da Coluna Prestes era derrubar o presidente Arthur Bernardes (1922 – 1926). A ideia era lutar contra as tropas do governo nas regiões  distantes do litoral e, quando o governo deixasse a capital desprotegida, outros tenentes tomariam o poder. No entanto, os tenentes percebem que as condições sociais do país eram tão ruins que trocar de presidente não iria mudar a estrutura política do Brasil. Percebendo que seu plano era furado, começam a ir para a Bolívia (1927).

Artur Bernardes
 Astrojildo Pereira
                                                                         
Aos poucos eles voltam para o Brasil. Os últimos a sair da Bolívia foram os líderes, pois sabiam que o governo estava vigiando-os. O último a sair da Bolívia foi Prestes.
Aqui em Niterói (RJ) em 1922, operários e pequenos burgueses formam o Partido Comunista do Brasil (PCB), que se diz membro da II Internacional, uma reunião de comunistas do mundo todo fundado pelos soviéticos. O curioso é que embora o partido se diga “socialista”, possui muitas ideias anarquistas. Por isso, só é aceito pela Internacional depois de 1930.
Em 1927, o secretário-geral do PCB, Astrojildo Pereira vai ao encontro de Luiz Carlos Prestes na Bolívia e dá a Prestes textos de Lênin e o Manifesto Comunista de Marx e Engels. A partir disso, Prestes percebe que seu projeto só iria funcionar, se promovesse uma revolução popular contra o governo. Ele se tornará, ano depois, o principal nome do PCB.
Em 1926 ocorre a fundação de um partido de classe média urbana em São Paulo: é o Partido Democrático. Representado por Maurício de Lacerda, lutava contra as oligarquias agrárias.
A partir de 1930 o movimento tenentista, desiludido com o governo Vargas, se dilui entre o comunismo e o fascismo.

A Revolta da Chibata (1910)


A Revolta da Chibata (1910, Rio de Janeiro)

No início do século 20, as condições de disciplina na Marinha eram muito rígidas. Embora a escravidão tivesse acabado há 22 anos, existiam heranças dela nessa instituição. Contra isso e outras coisas ocorreu uma revolta em 1910. Os motivos da revolta são: contra a chibata, pois os marinheiros recebiam castigos físicos. Além disso, os marujos reclamavam constantemente de receberem comida podre nos navios; enquanto que – nas mesas ao lado deles, os almirantes comiam até presunto e chocolate (produtos importados à época). Também como a maioria dos marujos eram negros e os almirantes eram brancos, haviam vários casos de racismo na instituição.


Como os marujos viajavam o mundo, alguns deles ficaram sabendo da revolta de marujos na Rússia em 1905. Um deles, João Cândido, guardou até um recorte de jornal sobre o ocorrido e o mostrava para os colegas, como exemplo.
Em 1910, a marinheira brasileira acabara de receber um grande navio de guerra, o “Minas Gerais”. O governo brasileiro estava pagando o navio ainda. Além disso, o governo estava enfraquecido com a “quebra” dos governos das oligarquias e a derrota da campanha civilista encabeçada por Rui Barbosa. (O presidente que acabara de assumir era o militar Hermes da Fonseca).

                                                          Hermes da Fonseca  e Rui Barbosa

A revolta aconteceu na mar. Os marujos anunciaram a tomada de alguns navios (inclusive o Minas Gerais). Houve luta em alguns navios, pois alguns almirantes não aceitavam aquilo e um deles foi morto no conflito. Seu corpo, junto a um Manifesto anunciando a revolta foi enviado a capital.


A reação da Marinha foi tentar convencer o governo de que deveriam afundar os navios. Mas o presidente, pressionado pelo senado (e pelo senador Rui Barbosa) buscou as duas possibilidades: atacar e/ou negociar. Na verdade, nenhuma das duas estava descartada.
O líder da revolta era João Cândido, chamado pelos marujos de "almirante Negro", pois toda a organização e ação da revolta saíram de sua cabeça. Isso chocou os almirantes, pois eles eram brancos e racistas. Para eles, era impensável um almirante ser negro... Além disso, havia a questão da insubordinação dos marujos à autoridade dos almirantes.

João Cândido
                                                                                                   

No entanto, quando João Cândido ficou sabendo que a Marinha e o governo não decidiam se atacavam ou não (afinal, seria um desastre militar e financeiro afundar barcos como o Minas Gerais, que o país ainda estava pagando) e, no Senado, havia pessoas dispostas a negociar, mandou outra carta para a capital, dando o xeque-mate no governo/marinha: os revoltosos ameaçavam bombardear o Rio de Janeiro, caso o governo não atendesse as exigências dos marujos...
Imprensa e população da cidade morriam de medo de que os marujos cumprissem sua promessa. O governo enfim decidiu negociar...
Nas negociações, os revoltosos decidiram colocar mais uma reivindicação: a não perseguição dos líderes do movimento. Feito o acordo, os marujos voltaram ao Rio de Janeiro, onde foram recebidos com festa. Mas, no início de 1911, quando a “poeira já havia baixado”, o governo se aproveitou da repressão a uma revolta de soldados no Rio de Janeiro para prender oposições, jornalistas, prostitutas do porto, os líderes da revolta da Chibata etc.
João Cândido e outros foram demitidos da Marinha. Ficaram presos em um navio-prisão. Voltando a terra tempos depois, foram colocados em outra prisão – embaixo de um prédio público dos departamentos de segurança da época. Na cela, os policiais reprimiam as lideranças da revolta, espancando-os. Além disso, jogavam cal no chão, o que aumentava a dor nos machucados e queimava a pele das pessoas. A maioria morreu ali mesmo.
O único que saiu de lá com vida foi João Cândido. De lá, foi colocado em um hospício – embora não estivesse louco. Tempos depois, jornalistas que pensavam em escrever a História da revolta eram ameaçados nas ruas...
A História da “Revolta da Chibata” só foi escrita décadas depois. Pior que isso, as famílias dos revoltosos demitidos (porque lutavam por direitos!!) passaram por gigantescas dificuldades financeiras e entrando na justiça para reaver seus direitos. Por incrível que pareça, o processo não foi decidido até hoje...
João Cândido, o “almirante Negro” morreu apenas em 1969 com 89 anos... Teimou em viver contra todos aqueles que queriam vê-lo morto e esquecido, se tornando símbolo da luta dos marujos por condições mais dignas de vida.

Estátua de João Cândido no RJ
                                                                    

A "Revolta da Vacina" (1904)


A “Revolta da Vacina” (Rio de Janeiro, 1904)

O nome da revolta foi colocado intencionalmente pelas elites para parecer que era uma revolta contra a vacina (isto é, algo bom); isso faz o povo parecer como ignorante e que brigava por causas bobas. As elites queriam desmerecer os movimentos populares...

Motivos da Revolta:

A cidade do Rio de Janeiro, naquela época de começo da industrialização, tinha uma densidade demográfica maior que a de São Paulo. O prefeito, Pereira Passos, tentou realizar reformas de cunho burguês para transformar o RJ, uma cidade colonial, em uma cidade burguesa, nos moldes de Paris da “Bélle Époque”, isto é, se adequando ao capitalismo e à “modernidade”. Para construir os Boulevards, a prefeitura deveria destruir muita coisa, para favorecer a circulação de mercadorias e reproduzir a estética da cidade parisiense. A intenção da prefeitura era construir a Avenida Rio Branco (atual Getúlio Vargas) ligando as fazendas produtoras de café ao porto.
Outro motivo da revolta foi o choque cultural entre duas formas distintas de ver o tratamento de doenças e enfermidades: a medicina popular e a medicina social. A primeira era o conhecimento que vinha dos caipiras, dos negros, dos nativos, dos sertanejos etc. e se baseava em chás, ervas, xaropes caseiros e outras “beberagens” etc. Era homeopática, pois era constituída por tratamentos de cura lenta, mas que não agrediam o corpo, a saúde. A segunda era capitalista e alopática (cura rápida pelo uso de drogas pesadas/antibióticos que sempre deixam “marcas” no corpo de seu usuário) e visava devolver o “paciente” ao trabalho o mais rápido possível (afinal, numa economia capitalista, “tempo e dinheiro”) e trata o doente como “paciente”, isto é, como alguém que não tem voz ativa, enquanto o “Doutor” (médico chamado assim por mero formalismo) é o portador da “verdade”.




Outro aspecto era o fato de que não havia à época nenhuma explicação de como a vacina funcionava, por que ela era importante etc. Não haviam grandes meios de comunicação de massa que atingissem a maioria da população (até por que a grande maioria das pessoas pobres era analfabeta e não tinha acesso aos jornais).  Também não havia no país um sistema escolar que pudesse levar as informações ao povo. O governo da época, na realidade, tratou a população como ignorantes que deveriam ser vacinados de qualquer forma. Por isso, a campanha de vacinação obrigatória (aos pobres!) do Dr. Oswaldo Cruz. Nesta, o ato de vacinação era truculento e desrespeitoso a alguns costumes da época (como fazer as mulheres mostrarem o braço – visto como parte sexuada do corpo). Algumas pessoas também morriam depois de vacinadas – o que causava indignação nas pessoas, pois achavam que o governo estava querendo matar os pobres mesmo. Nas ruas as pessoas cantavam:

As mães clamam e choram por Jesus,
E o culpados disso tudo é o Doutor Oswaldo Cruz...”



Naquela época, acreditava-se que os pobres eram portadores de “miasmas”, que suas doenças eram desenvolvidas apenas pela infecção e não pelo contágio. Era uma forma de dizer que a doença era própria à condição de pobreza.
A população do Rio de Janeiro já vinha demonstrando que não aceitava as mudanças que os governantes faziam na cidade (e que sempre acabavam por mexer com suas vidas). A demolição de cortiços para higienizar a cidade, era uma prática discutida desde o império. Em 1880, a “Revolta do Vintém” colocou frente a frente as reivindicações populares e as políticas governamentais de “saneamento” da capital. Na República, com sua aura de “modernidade”, essa ideia foi colocada em prática diversas vezes, como por exemplo, na demolição em 1893 do maior cortiço da cidade, o “Cabeça de Porco”.
Em 1904, centenas de pessoas pobres, donos de cortiços e pequenos comerciantes foram expulsos do centro da cidade. A desapropriação – chamada de “Bota-fora” – era uma ação de muita violência, gerando resistência popular em alguns bairros. Essa resistência foi a base da “Revolta da Vacina”: bondes eram tombados para servirem de barricadas, pedras arremessadas e tiros eram usados como armas. Até a capoeira era usada na luta contra a polícia. O governo só consegue vencer a revolta após receber reforços policiais de outras regiões do Brasil: especialmente batalhões de S. Paulo e Bahia.


A revolta não consegue impedir a reforma, mas consegue mudar a visão da população pobre sobre a modernização da cidade. Além disso, a derrota popular deu origem às favelas na cidade do Rio de Janeiro. Expulsos do centro, os pobres rumavam para os morros, catando pedaços e sobras de quaisquer coisas que servissem para construir habitações nas bordas da cidade. Era o início das favelas no Rio de Janeiro...
Ao mesmo tempo e, como reflexo da revolta no Rio, em São Paulo, as mudanças no sentido de modernização da cidade ocorreram de outra forma: por causa da topografia da cidade, esta era fragmentada em áreas industriais (com as habitações operárias perto), bairros ricos (como Higienópolis, Campos Elísios – Av. Paulista) e zonas rurais. O policiamento de São Paulo expulsavam os pobres dos bairros ricos. Também, havia uma lei do zoneamento que dificultava a construção de cortiços nos bairros ricos, pois a lei dizia que em alguns bairros, um terreno comprado teria que deixar suas áreas laterais para a criação de jardins, calçadas e quintal. Em um bairro pobre, podia-se construir no terreno todo e, por isso, era escolhido pelos pequenos proprietários para a criação de cortiços.