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quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O movimento operário em luta contra a Revolução Industrial e o capitalismo

O movimento operário em luta contra a Revolução Industrial e o capitalismo

Desde o início da Revolução Industrial, os trabalhadores reagiram às formas de exploração trabalho que os burgueses criaram. Primeiramente, surgiram as sabotagens, as expropriações e o “corpo-mole”. Indignados com a forma como os “patrões” os tratavam, os artesãos das manufaturas queriam voltar a uma sociedade a qual haviam saído há pouco; assim, as primeiras formas de resistência à Revolução Industrial são marcadas por práticas e ideias que eles tinham desde sua migração do campo para as cidades, decorrentes em grande parte por causa dos cercamentos de terras.


No final do século 18, as fábricas surgiram contra essas primeiras formas de luta... (veja o texto O nascimento das fábricas neste blog). 

Nessa nova realidade das “fábricas satânicas” como os trabalhadores as chamavam, estes tiveram que reinventar suas formas de luta contra os burgueses e a exploração. Surgiram trocas de cartas e imprensa sobre a situação dos operários. Nessas, perceber que eram explorados, não importando qual fábrica, setor, cidade ou país estavam, foi um importante fator de CONSCIÊNCIA de pertencer a uma classe social, algo fundamental para a luta.


Nas décadas seguintes surgiram: ligas operárias (uma espécie de sindicatos de várias categorias); associações de ajuda mútua (para operários acidentados, operárias gestantes, idosos etc.); o “luddismo” (os quebradores de máquinas, mas somente das que tiravam empregos); o “cartismo” (levavam cartas aos deputados dos países, no intuito de serem ajudados a sair da situação de miséria e de não ter direitos); passeatas e manifestações... além disso, surgiram as GREVES.

Desde a Roma Antiga, a recusa ao trabalho era chamada de “parada”. Na Paris (França) da Revolução Industrial, os operários – cansados de apanharem da polícia quando faziam as tais paradas e ficavam dentro das fábricas – começam a ir para as praças próximas. No centro da cidade, havia uma praça “Griève”... e o nome da praça “pegou” no movimento... nascia a greve!

Os operários organizavam as greves dias após do recebimento do salário. Assim, aguentavam mais tempo parados. Os patrões já não aguentavam tanto, pois precisavam da produção funcionando para entregar os produtos já comprados pelos comerciantes. Só que, antes de negociar, os patrões chamavam a polícia (!) e era borrachada na cabeça dos trabalhadores...

Por isso, os operários foram para as praças e das praças para as ruas. Parando as ruas, atrapalhando o “trânsito”, eles mostravam para a sociedade a miserável situação na qual trabalhavam e viviam. Atingiam assim, o centro do sistema que os explorava sem dó! Parar as ruas atrapalhavam o sistema capitalista a andar/fluir... Na sociedade capitalista, a rua é o local de circulação de mercadorias, i. e., como o capitalismo transforma tudo em mercadorias, produtos e pessoas, tudo o que circula nas ruas é visto pelo sistema como mercadoria. Quando os trabalhadores param as ruas nas greves estão atingindo em cheio o sistema. Por isso, as mídias hegemônicas (empresas capitalistas de comunicação, grandes conglomerados que monopolizam e distorcem as informações) falam tão mal das greves e as "cobrem" (nos jornais, rádios, tvs) falando apenas do lado negativo: "atrapalham o trânsito", "Atrapalham o cidadão" etc. As mesmas atitudes de parar as ruas, quando feitas por torcedores de futebol não são tão mal faladas pelos mesmos meios de comunicação. Por que será?


As greves foram a principal forma de luta dos trabalhadores. Através delas, eles forçaram os patrões a negociar, conquistaram direitos e melhorias de vida. Mas isso não foi fácil ou rápido. Às vezes, um direito trabalhista demorou décadas para ser formado... e muitas greves... muitas borrachadas... muitas mortes, ocorreram para termos direitos hoje... Para Hannah Arendt, os operários europeus expandiram os direitos do iluminismo para as camadas mais pobres e conquistaram outros mais...

Os primeiros socialistas franceses e ingleses e suas formas de reação à industrialização

Os primeiros socialistas franceses e ingleses e suas formas de reação à industrialização

Entre 1790 e 1830 ocorre a auto-formação da “classe operária”. A consciência de uma identidade de interesses entre diversos grupos de trabalhadores contra os interesses de outras classes aparece com fruto da luta contra a exploração e por direitos políticos e civis na Europa Ocidental,  especialmente na Inglaterra e França.

Desde o século 18 os artesãos já se organizavam contra as formas de exploração que sofriam devido à Revolução Industrial. Desde as “sociedades de correspondência” da década de 1790, passando pelo Luddismo nas primeiras décadas do século 19 até  Cartismo dos anos  de 1830 é importante observar que “a ênfase excessiva sobre o caráter inovador das tecelagens pode levar ao menosprezo da continuidade das tradições políticas e culturais na formação das comunidades da classe operária. Os operários, longe de serem os “filhos primogênitos da revolução industrial”, tiveram nascimento tardio. Muitas das suas idéias e formas de organização foram antecipadas por trabalhadores domésticos. (...) Em muitas cidades, o verdadeiro núcleo de onde o movimento trabalhista retirou suas idéias, organização e liderança era constituído por sapateiros, tecelões, seleiros e fabricantes de arreios, livreiros, impressores, pedreiros, pequenos comerciantes e similares” (Thompson, A maldição de Adão, p. 16). Para estes, “As questões que provocaram maior intensidade de envolvimento foram muito freqüentemente aquelas em que alguns valores, tais como costumes tradicionais, “justiça”, “independência”, segurança ou economia familiar, estavam em risco, ao invés da simples questão do “pão com manteiga” (Idem, p. 27).. Por isso, “é indiscutível que as lembranças do meio rural se incorporaram à cultura da classe operária urbana através de inúmeras experiências pessoais. Durante todo o século 19, o trabalhador urbano manifestou o mesmo rancor contra a “aristocracia rural” que o avô talvez tenha nutrido em segredo. (...) julgava que o latifundiário não tinha “direito” à sua riqueza, ao contrário do industrial, que tinha “conquistado” a sua, ainda que por meios abomináveis” (Ibdem, p. 63/64).

Os quebradores de máquinas, ou ludditas, criaram a primeira forma de reação contra o maquinário e os burgueses que tentavam substituir o homem pelas máquinas. Entre 1812 e 1815 no Centro-oeste da Inglaterra e nas décadas seguintes na Europa continental (França), os seguidores de “Nedd Ludd” ameaçavam os donos das oficinas e não sendo atendidos invadiam as oficinas à noite para quebrar as grandes máquinas. Mas eles não quebravam qualquer máquina, mas apenas aquelas que retiravam muitos empregos e acumulavam o saber-tecnológico, retirando-o do artesão. O movimento luddita foi uma primeira forma de resistência organizada numa época  em que não haviam sindicatos ou um movimento organizado para os trabalhadores se defenderem.

O Cartismo foi um movimento mais “pacífico”, pois pretendiam despertar na sociedade a necessidade de melhorar as condições de vida dos trabalhadores. Eles organizavam passeatas (mesmo proibidas), mandavam cartas aos políticos profissionais (deputados, senadores, etc.) e procuravam organizar candidaturas de pessoas vindas do meio dos operários.

A partir daí, pessoas que defendiam uma “sociedade socialista” – em que não houvesse exploração do homem pelo homem e que as pessoas pudessem ter tempo para o lazer e o descanso – começaram a aparecer no “movimento operário”.

Na França, Saint- Simon pregava a necessidade de fábricas que fossem comandadas pelos próprios trabalhadores, e em que as técnicas de produção não fossem como as da fábrica burguesa (que esfolam as pessoas para que a produção seja maior em menor tempo e com maiores lucros); já C. Fourier queria criar áreas isoladas da sociedade capitalista em que as pessoas trabalhassem e vivessem isoladas como uma sociedade socialista: eram os Falanstérios. Na Inglaterra, um industrial de nome Robert Owen procurou criar em suas fábricas uma espécie de vila socialista em que os trabalhadores, morando ao lado da fábrica, ajudavam a controlar a produção e as demais atividades ligadas àquela comunidade. A maioria dessas tentativas foi frustrada pela impossibilidade de isolamento perante o capitalismo, pois a concorrência da fábrica burguesa arrasava esse projetos.

Entre muitos outros, devemos destacar: as lutas no Parlamento (câmara dos deputados) de L. Blanc, defendendo a aprovação de leis trabalhistas para a classe operária francesa; e, Pierre Joseph-Proudhon que incentivava a criação de diversas associações de ajuda mútua e de cooperação entre os trabalhadores, tais como bancos, escolas entre outros. Após algum tempo Proudhon se converteu ao anarquismo.

O nascimento das fábricas

O nascimento das fábricas

            As ciências humanas tradicionais acreditam que as fábricas “surgiram” porque com as mudanças tecnológicas do início do século XIX, a burguesia não mais conseguia levar as novas máquinas aos diversos pontos em que se espalhavam as manufaturas. No entanto, essa interpretação contém, no mínimo, dois erros. O primeiro é cronológico, pois as máquinas, como processo de eletrificação durante a Revolução Industrial só se difundiram em meados do século XIX e as fábricas “nasceram” no final do século XVIII. Como pode o efeito (a fábrica) acontecer antes da causa (o avanço tecnológico)? Segundo: as reais intenções da burguesia ao constituir um espaço físico determinado para a produção (a fábrica) ficaram – derrubada a primeira hipótese – no ar...
Vejamos como, sob outro ponto de vista, as coisas se encaixam.
A partir do momento em que os mestres começaram a explorar o trabalho de seus semelhantes com fins de obter lucros, os trabalhadores das manufaturas sentiram na pele a exploração e a conseqüente falta de ética profissional que regulava o “preço justo” até então. A resposta foi a resistência dos trabalhadores aos novos métodos da nascente burguesia manufatureira.

            Como as manufaturas funcionavam em um sistema de produção doméstico, e as áreas manufatureiras da Europa Ocidental não eram propriamente em grandes cidades, as casas dos trabalhadores eram ou muito próximas ao local de trabalho ou o próprio. Assim, era muito comum o trabalhador deixar o serviço para fazer outras coisas, tais como descansar o corpo um pouco, dormir e realizar afazeres domésticos. Isso tinha como intenção quebrar a monotonia do trabalho e diminuir a ingerência do burguês sobre a vida dos trabalhadores. É claro que os primeiros não gostavam disso, mas era muito difícil controlar as indas e vindas de trabalhadores no sistema doméstico.

            Além de que a noção de tempo como algo que não se pode perder, ou o tempo útil do sistema capitalista ainda era um sonho na cabeça de alguns burgueses ávidos por lucros maiores. No tempo útil, o sujeito não pode perder tempo com ações ou pensamentos que não lhe tragam algum bem material ou algo similar, pois “Tempo é dinheiro”. No entanto, o ser humano viveu até o século XVIII sendo adepto do tempo cíclico que é o tempo da natureza. Lento, este caminha desritmado. Não há pressa para ordenhar a vaca ou capinar um terreno. O ritmo de trabalho é ditado pelas características naturais do homem (que aí se assemelha a um animal), pois para as necessidades é que se trabalha. Nas sociedades em que o tempo cíclico é predominante, não há a pressa e o estresse característicos da sociedade capitalista.
            Dessa forma, os trabalhadores das manufaturas, a partir da metade do século XVIII intensificaram o “corpo-mole” a fim de diminuir a exploração que vinham sofrendo. Além disso, começou a se tornar comum os trabalhadores expropriarem o burguês, desviando mercadorias prontas ou matérias-primas para obter com a venda “no paralelo” algum dinheiro a mais, ou como os próprios trabalhadores diziam na época: “Estamos pegando aquilo que nos pertence pelo burguês nos explorar”. Era como um bônus a mais no salário, só que sem o burguês aceitar.

            Como resposta a essas investidas dos trabalhadores os diversos burgueses da Europa começam a criar modelos de unidades de produção para controlar os trabalhadores tanto no que tange ao matar-trabalho, quanto aos desvios de produtos de seus bolsos. Foram constituídas centenas de modelos de fábricas por toda a Inglaterra, Bélgica, Holanda, parte da França e atual Alemanha. Porém, contrariando a ideologia capitalista muito em moda hoje, de que tudo o que a burguesia faz dá certo, os modelos de fábricas iam sendo constituídos e sem demora se esfacelavam, quer pela incapacidade de conter os trabalhadores, quer pela concorrência com outras fábricas. Isso demonstra que a ascensão do sistema capitalista não pode ser imaginada como um avanço sem retrocessos ou insucessos (o que é uma idéia corrente nos livros de Geografia e História que tratam da Revolução Industrial). Muitas fábricas falharam, muitos capitalistas empobreceram; a dinâmica de produção sob o domínio do capital acabou por se estabelecer, porém,  em seu início “aos trancos e barrancos”.


            O modelo de fábrica que hoje conhecemos (com apitos, operários que não trazem nada para o local do serviço a não ser sua força de trabalho, a unidade de produção concentrada em grandes plantas, as linhas de produção interligadas, as figuras de mestres e contra-mestres que vigiam os operários e etc) foi uma criação dos burgueses de Manchester (Centro-leste da Inglaterra), e que dali, foi copiada por ter conseguido maiores resultados positivos para as pretensões da burguesia.